27 de nov. de 2017

Soundgarden - Black Hole Sun


"Segure a minha cabeça, afogue meus medos
Até que todos desapareçam"

25 de nov. de 2017

VAZIO

Meu caro, minha cara

      Estou neste final de semana na casa da minha sogra e, como viemos de carro, trouxemos o Juvenal (nosso gato).
      Minha sogra mora numa casa com um bom quintal, cheio de árvores e orquídeas. Mas isso não é tudo o que tem por aqui: há também as visitas do famigerado gato preto, um gato de rua que ronda a casa atrás da ração da cachorrinha que minha sogra tem.
      Quando o Juvs vem, eles sempre brigam.
      Pois bem. Hoje de manhã, antes das 8h, acordei com os dois brigando na lavanderia. Sai o mais rápido que pude e a única coisa que eu vi com meus olhos sonolentos foi o vulto do gato preto fugindo quintal afora. Peguei o Juvs pra saber se ele estava bem e entramos em casa.
      Me arrumei e, antes de tomar café, fui acompanhar o Juvenal pelo quintal. Era estranho, porque geralmente ele é um gatinho muito independente, mas hoje ele está com medo e não sai de perto de mim. Para ir ao quintal novamente, tive que descer novamente. E ele só vai mais para dentro do quintal se eu for junto.
      Numa dessas idas, sentada na escadaria esperando o Juvenal se decidir se comia uma plantinha ou se escalava uma árvore, eu vi um ninho caído no chão.
      Por razões óbvias, não faço a menor ideia de qual espécie pertencia, mas, como todas as coisas bobas e pequenas que existem, aquele ninho me chamou a atenção.
      Comecei a pensar que nenhuma obra de engenharia ou arquitetura humana serão páreos para esse ninho. Embora frágil a meus olhos, o ninho foi construído com materiais mais resistentes do lado de fora e mais maleáveis e confortáveis do lado de dentro.
      Ele tem o tamanho certo para a quantidade de ovos que iriam ser postos e chocados.
      Ele pode ter sido aproveitado para mais de uma ninhada, mas se não foi, outro foi feito no lugar e este fora descartado. Pode ter sido atacados por algum animal.
      O tempo (não vou dizer mau tempo, porque a natureza nunca é má) pode ter feito com que caísse. Os ovos ou filhotes que estivessem dentro podem ter morrido.
      A Terra não parou de girar por causa disso.
      Da mesma forma, ovinhos e filhotes podem ter sido criados nesse ninho sem qualquer intercorrência; foi dele que foram expulsos pelos pais. Foi dele que aprenderam a voar e saíram, para não voltarem. Passarinhos não devem ser nostálgicos.
      Daí, enquanto Juvenal estava explorando o quintal, eu pensei: "Que loucura é isso, não? Há tantos exemplos, como esse ninho, que nos dizem que as coisas não devem ser frágeis ou resistentes. Elas devem ser suficientes, a um propósito e a um tempo. Elas devem ser 'abandonadas' quando o tempo e o objetivo não existem mais. Elas são feitas para deixarem de existir quando não houver mais espaço para elas, para dar espaço a outras coisas.
      Nós, como seres 'inteligentes', não temos a menor noção disso, como se nossa natureza atual fosse ser contrário a essa natureza".
      Voltei para a sala e o Juvs me acompanhou. Ele quer voltar para o quintal, mas eu precisava escrever isso, antes que podese perdesse na minha memória.

(...)

      O tempo de escrever terminou. Vamos voltar ao quintal agora.

Ribeirão Bonito, 25 de novembro de 2017