25 de set. de 2024

CORPORATE COMEDY: RINDO PARA NÃO CHORAR...

 Meu caro, minha cara...


O stand up comedy (ou só stand up, no geral) tem várias linhas de humor: a de costumes, cotidiano, política, a de resistência e a autodepreciativa.

(não coloco aqui os “politicamente incorretos” porque fazer piada com gênero, etnia, classe social e o escambau é coisa de gente idiota. Aliás, o stand up de resistência costuma tirar sarro desse tipo de “gente”)

Bom, mas voltando ao assunto: tem um monte de tipos de stand ups por aí.

E o que isso tem a ver com esse ambiente “mágico” que é esse daqui onde estamos? Ultimamente, bastante coisa.

Motivo: tenho reparado no aumento de profissionais que publicam aqui postagens TIRANDO SARRO desse “mundo-corporativo-sério-e-sisudo-em-que-somos-obrigados-a-trabalhar”, ou do seu primo, o “mundo-corporativo-cheio-de-esperança-e-gratiluz-que-só-deve-existir-para-aumentar-as-vendas-de-Vonau-ou-DraminB6”.

(pode ser que seja só o algoritmo do linkedinho - @tatiany lukrafka, não nos conhecemos, mas vou usar o apelido “carinhoso” que deu para essa plataforma linda, tudo bem?)

E como o linkedinho é uma rede corporativa, a tiração de sarro geralmente orbita entre os seguintes temas:

- Galerinha animada que usa o linkedinho para mostrar o mundo corporativo como o Reino dos Unicórnios, mesmo a gente sabendo que tá mais para Curral dos Pôneis Malditos;

- Pessoal de atendimento ao cliente desabafando sobre cliente folgado;

- Vagas arrombadas;

- Trabalhos arrombados;

- Profissionais fazendo piada com os RHs;

- Todo mundo tirando onda com a Gupy.


(não coloco no elenco os itens “gestores arrombados”, “colegas de trabalho arrombados” e “subordinados arrombados” porque eu acho que o pessoal ainda tem vergonha e precisa pagar os boletos).

Pois bem: como sou do RH (e do MKT, agora que tive que virar empreendedora na força do ódio - não a parte do RH e MKT, mas a parte do empreender), vou focar aqui nas áreas em que atuo hoje.

Todo santo dia eu abro meu linkedinho e me vejo obrigada a comentar postagens com frases e memes que dizem “rindo, mas de nervoso”, “rindo, mas com respeito” ou “rindo para não chorar”.

Porque... sério: tem vezes que só fazendo PIADA para aguentarmos as coisas que acontecem na nossa vida profissional, não importa se é problema com sistema, cliente, fornecedor, gestor, candidato ou coleguinha. Não tem clonazepam no mundo que chegue o tanto que a gente precisa de uma válvula de escape eficaz para aliviar a pressão!

E sobre o riso, a piada, o humor... Freud explica, viu?



Fazer humor é uma válvula de escape poderosa, um meio de falar tudo o que se deseja por meio do gracejo e da brincadeira. É a habilidade de achar similaridades entre coisas que não têm nada a ver uma com a outra - em outras palavras, encontrar similaridades escondidas. E quando isso acontece, o riso é o resultado.

E por quê?

Porque nos faz pensar em coisas novas (e coisas novas geralmente nos atraem). E porque nos alivia o peito, por falar abertamente algo que não havíamos visto antes uma forma de falar o que queríamos, sem nos prejudicar ou prejudicar alguém.

E para criticar algo sem perder o réu primário, vale tudo: jogo de palavras, duplo sentido, ironia, memes sem fim...

E o que tudo isso tem a ver com mundo corporativo e stand up?

O linkedinho está sendo povoado por vários esquetes de stand up depreciativo e autodepreciativo desse “mundo-corporativo-sisudão”. Já havia reparado nisso?



E não é à toa. Esse ambiente mega protocolar, todo “sério” e “cinza” que vendem pra gente como o “mundo do trabalho”, não existe dessa forma... Ele é muito pior para muita gente e muito mais legal para outras. Vai depender da escolaridade do sujeito, cor da pele, CEP, sobrenome, sorte...

E nesse imbróglio todo, tem gente que:

- Fica doente por causa do trabalho, porque quer atender a padrões de excelência que só existem no mundo das ideias;

- Se acha no direito de tratar mal e ser arrogante com outras pessoas, independentemente de ser ou não melhor tecnicamente melhor que elas;

- É egoísta e não ajuda o coleguinha quando precisa;

- Aceita ser humilhado no trabalho, achando que não vai conseguir coisa melhor que o ajude a pagar seus boletos...



Esse caminhão de postagens que eu vejo por aí, brincando e falando sério ao mesmo tempo, sobre os problemas que enfrentamos no trabalho ou na busca por trabalho... Isso é um sinal de que as coisas não estão bem e que, de alguma forma, estamos nos decidindo sobre falar a respeito.

Mesmo que seja fazendo stand up corporativo.


(...esse é o momento em que eu paro e penso sobre como vou fazer um parágrafo final que conclua o texto, deixando uma boa reflexão para o leitor que chegou até aqui)

(Mas percebo que é inútil, pois não há boa reflexão frente a um ambiente que, no geral, ainda é tóxico e explorador para tantos. Em diferentes níveis, eu sei...)

(Portanto, vou dar uma de J. D. Salinger e terminar por aqui, sem final, porque sei que esses questionamentos estão apenas começando. E coisas que começam não devem ter uma conclusão tão precipitada assim...)


(pois tem vezes que mundo corporativo não tá merecendo ser levado a sério...)


Ribeirão Preto, 25 de setembro de 2024


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