Meu caro, minha cara,
Hoje, meu tio João faleceu. Não sei ainda o que aconteceu. Só sei que ele estava doente e que, depois de 20 dias internado, ele se foi.
Não falo muito sobre a família da minha mãe, mas isso agora não tem importância.
O velório será amanhã e o enterro também. Estava falando com meu marido a respeito, enquanto intercalava choro e afagos na Riccota, minha irmã de pelo.
A conversa girou em torno sobre a utilidade do velório. Ele não gosta pois se lembra do velório do pai. Ao lembrar das palavras da mãe dele, “nós nunca mais o veremos novamente”, isso o pegou demais. A tristeza era avassaladora. Eu lembro. Eu estava lá e testemunhei tudo.
Da mesma forma, quando meus pais morreram, ele testemunhou a minha dor. Ele ainda faz isso, aliás. Com meus pais não teve velório. Ambos morreram de Covid e não houve velório para nenhum deles. Todos ficaram de longe, acessíveis apenas pelo whatsapp, com medo de se infectarem.
Quem pode julgá-los? Errados eles não estavam.
Por causa da pandemia também não houve o velório do meu tio Edmilson, que faleceu por causa de insuficiência cardíaca. Mesmo não sendo vítima da Covid, proibiram o velório para evitar aglomeração de pessoas.
Amanhã será o velório do meu tio João. Verei minha família lá. A família que não pude estar perto para chorar por todos os que se foram, com todos os que ficaram. Será o primeiro velório “decente” que teremos.
Infelizmente, algo decente virá de algo muito, muito triste.
Ribeirão Preto, 07 de outubro de 2024.
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