Meu caro, minha cara
A gente
nunca sabe de onde vem o conhecimento que a gente vai usar de fato na nossa
vida...
Eu tiro
isso por mim: com 16 anos, ao final do colégio técnico (fiz automação industrial),
decidi que queria fazer RH. Não pergunte porque, mas encasquetei com isso lá atrás
e hoje eu sinto que foi a decisão certa. Contudo, todas as decisões que tomei
depois disso não foram tão felizes assim: fui fazer Psicologia (baita erro),
aceitei o primeiro emprego que me ofereceram na área sem pensar se estava
pronta ou não (baita erro), me sujeitei a situações que nem meu pior inimigo
deveria passar (baita erro).
Mas,
cada um a seu modo, foi um acerto. Afinal, aprende-se com os erros. Só que não
foi sobre isso que eu vim falar aqui, porque de todas as coisas que eu vi
durante minha vida acadêmica e minha vida profissional, nada foi tão inspirador
e prático quanto o Pascal.
Para
quem não conhece, o Pascal é uma linguagem de programação “dazantigas”. O ambiente
de trabalho era o saudoso MS DOS (alguém se lembra dele?) e o cúmulo da finesse
era conseguir mudar a cor da fonte na tela final, contrastando com o sempre
presente fundo preto. Uma “beleza” no ponto de vista do usuário final.
Para
quem programava, era muito chato: tinha que anotar todas as variáveis e elas
não podiam ser repetidas, sob pena de criar um loop na programação. As linhas
de programação tinham que ter o tamanho que tinham que ter, não importa se isso
significava 100 caracteres ou 10.000. As instruções tinhas que ser obviamente
explícitas, ou então o programa teria um bug. E o resultado final? Algo tão
simples, tão primário, tão medonhamente estúpido do ponto de vista da utilidade
que não se sabia do que se tinha mais raiva: do processo ou do desfecho.
Entretanto,
quando lembro das aulas de programação e das aulas de sistemas digitais, eu dou
valor hoje. Porque eu errei na escolha da minha graduação (profissionalmente
falando) e o que me salva hoje na minha carreira é o senso de ordenação que eu
aprendi lá atrás; é saber que algo tem um fim e que sempre temos que esgotar
todas as possibilidades antes de ir para o próximo assunto ou desafio; é saber
que o óbvio é aquilo que a gente fala, que deixa explícito e comunica com
clareza para todas as partes interessadas.
Não vou
dizer que minha graduação foi de todo inútil: gosto de dizer que a Psicologia
me ajudou a treinar meu olho e meu ouvido, para ver melhor e ouvir melhor as
pessoas e situações à minha volta (papinho de lobo mau travestido de vovozinha,
né? Mas é verdade...). Só que dizer que eu uso até hoje as teorias que estudei
no meu trabalho seria mentira.
Uso no RH hoje muito mais o que
eu aprendi nas minhas experiências fracassadas do passado e da minha pós em
gestão de projetos. Procuro passar essas experiências para o meu dia a dia e
procurar outras áreas de conhecimento, como Marketing, Administração, Filosofia
e Engenharia para compor meu conhecimento atual.
E uso
muito o que aprendi com o Pascal. O chato, velho e didático Pascal...
Ribeirão Preto, 23 de maio de 2018.