23 de mai. de 2018

OS EQUÍVOCOS E O PASCAL...


Meu caro, minha cara

                A gente nunca sabe de onde vem o conhecimento que a gente vai usar de fato na nossa vida...
                Eu tiro isso por mim: com 16 anos, ao final do colégio técnico (fiz automação industrial), decidi que queria fazer RH. Não pergunte porque, mas encasquetei com isso lá atrás e hoje eu sinto que foi a decisão certa. Contudo, todas as decisões que tomei depois disso não foram tão felizes assim: fui fazer Psicologia (baita erro), aceitei o primeiro emprego que me ofereceram na área sem pensar se estava pronta ou não (baita erro), me sujeitei a situações que nem meu pior inimigo deveria passar (baita erro).
                Mas, cada um a seu modo, foi um acerto. Afinal, aprende-se com os erros. Só que não foi sobre isso que eu vim falar aqui, porque de todas as coisas que eu vi durante minha vida acadêmica e minha vida profissional, nada foi tão inspirador e prático quanto o Pascal.
                Para quem não conhece, o Pascal é uma linguagem de programação “dazantigas”. O ambiente de trabalho era o saudoso MS DOS (alguém se lembra dele?) e o cúmulo da finesse era conseguir mudar a cor da fonte na tela final, contrastando com o sempre presente fundo preto. Uma “beleza” no ponto de vista do usuário final.
                Para quem programava, era muito chato: tinha que anotar todas as variáveis e elas não podiam ser repetidas, sob pena de criar um loop na programação. As linhas de programação tinham que ter o tamanho que tinham que ter, não importa se isso significava 100 caracteres ou 10.000. As instruções tinhas que ser obviamente explícitas, ou então o programa teria um bug. E o resultado final? Algo tão simples, tão primário, tão medonhamente estúpido do ponto de vista da utilidade que não se sabia do que se tinha mais raiva: do processo ou do desfecho.
                Entretanto, quando lembro das aulas de programação e das aulas de sistemas digitais, eu dou valor hoje. Porque eu errei na escolha da minha graduação (profissionalmente falando) e o que me salva hoje na minha carreira é o senso de ordenação que eu aprendi lá atrás; é saber que algo tem um fim e que sempre temos que esgotar todas as possibilidades antes de ir para o próximo assunto ou desafio; é saber que o óbvio é aquilo que a gente fala, que deixa explícito e comunica com clareza para todas as partes interessadas.
                Não vou dizer que minha graduação foi de todo inútil: gosto de dizer que a Psicologia me ajudou a treinar meu olho e meu ouvido, para ver melhor e ouvir melhor as pessoas e situações à minha volta (papinho de lobo mau travestido de vovozinha, né? Mas é verdade...). Só que dizer que eu uso até hoje as teorias que estudei no meu trabalho seria mentira.
Uso no RH hoje muito mais o que eu aprendi nas minhas experiências fracassadas do passado e da minha pós em gestão de projetos. Procuro passar essas experiências para o meu dia a dia e procurar outras áreas de conhecimento, como Marketing, Administração, Filosofia e Engenharia para compor meu conhecimento atual.
                E uso muito o que aprendi com o Pascal. O chato, velho e didático Pascal...


Ribeirão Preto, 23 de maio de 2018.