27 de out. de 2019

TELECATCH

Meu caro, minha cara.

Quando era criança, eu assistia o "Viva a Noite" até o final porque sabia que o programa seguinte era o "Luta Livre na TV".

Eu achava muito engraçado as performances dos lutadores, pois dava pra ver que era de mentirinha.

Mesmo sabendo que tudo aquilo era ensaiado e combinado.

As lutas que eu mais gostava eram aquelas em que duplas se revezavam no ringue. Duas pessoas lutavam e seus parceiros ficavam do lado de fora.

Quando um deles estava levando um cacete do outro, bastava estender a mão até o parceiro e este o puxava para fora do ringue, pulava para dentro e a briga recomeçava.

Não importava quem desse o golpe final. Era trabalho de equipe.

Deve ser bom ter isso. Bater na mão de alguém e ela entrar dizendo "deixa que eu assumo a partir daqui".

Ribeirão Preto, 27 de outubro de 2019.


25 de out. de 2019

INVENTÁRIO DE MIUDEZAS

Meu caro, minha cara.

Caixinha de pedra sabão pintada de vermelho: comprei em Paraty. Queria algo que me lembrasse da praia, mas não de forma explícita. Adoro sua simplicidade.

Onibusinho colorido: a Nani que me deu. Ela foi pra Colômbia, se lembrou de mim e trouxe. Ela é muito fofa...

Totem de obsidiana: quem me deu foi o Olavo. Bom menino, mas fala mais que o homem da cobra (rsrsrs). Ele é triatleta (pelo menos, quando ele foi meu estagiário, era). Foi representar o Brasil numa competição e me trouxe. Se colocar no sol, a obsidiana fica dourada.

Buda: trouxe de Foz do Iguaçu. Comprei no templo budista quando minha mãe e eu fomos lá. Adoro a cidade. Já fui duas vezes. Espero ir a terceira.

Coruja de vidro: artesanato de 1,99, não é muito bonitinha não. Mas quem me deu foi a Termutes. Trabalhamos juntas, já. Pensa numa pessoa doce! Obstinada e doce. Um exemplo de gente boa...

Gatinho dando tchau: a Tati Beneduzzi me deu. Tinha outro gatinho fazendo par, mas um dia o Juvenal se assustou com um grão de pólen, saiu pulando pela casa e quebrou o amiguinho. O Dudu viu e, ao invés de colar os pedaços (ou deixar para eu colar), ele jogou fora... :|

Sagrada Família: comprei em um natal qualquer. Mesmo não me considerando católica, ela me lembra amor. Preciso disso.

Cachepô de vidro: ganhei no meu chá de cozinha, da Kelly. Nos encontramos menos do que gostaria. Puta profissional de RH. Baita pessoa legal.

Aquário de conchas: são as conchas que peguei em Paraty. Graças a elas eu tive insolação. Mas foi uma viagem linda. O Juvenal quebrou um pedaço do aquário no mesmo ataque de susto por causa do grau de pólen.

Cerejeira de led: quem me deu foi a Nelize. Adoro essa cerejeira, mas não é sempre que eu a ligo. A Ne e eu não conversamos mais. Continuo amando minha amiga, mas eu acho que ela está num caminho que precisa trilhar sozinha. Isso é triste...

Quadro das azaléias: minha mãe quem pintou. Ela adora azaléias. Não acho minha mãe uma pintora excepcional, mas esse quadro é muito bonito (pelo menos para mim ele é). Eu acho isso porque eu não percebo que ela quis controlar todas as pinceladas. Querer controlar tudo é doença.

Orquídea: ganhei do Dudu do dia dos namorados. As flores são lindas, mas já secaram e caíram. Agora, só restam folhas. Sei que estou cuidando bem dela porque há uma folha nova saindo. As vezes um passo à frente não tem cara de um passo à frente...

Ribeirão Preto, 25 de outubro de 2019


24 de out. de 2019

NINGUÉM MERECE

Meu caro, minha cara.

Há dias que são de fúria. E não precisam ser dias em que você recorre à violência.

Por que digo isso?

Porque hoje, agora à pouco, percebi que boa parte do meu ano tive dores crônicas: pescoço, cabeça e costas.

Meses sentindo dor, para ser exata.

E se tudo der errado, até o final do ano vou somar o joelho novamente à conta.

Sentir dor é um exercício de humanidade: amacia e endurece seu coração de um jeito que nenhuma outra experiência faz.

Mas é um puta exercício de merda! Só quem sente dor e é consciente dela (porque uma coisa é sentir dor, outra coisa é entender porque ela está ali), sabe que ninguém merece isso. Nem aquela pessoa que você detesta/não presta merece.

Só quem sente sabe o quanto a dor é limitante. Limita movimentos, estratégias, ações e desejos.

Te deixa embotado.

Há dias de fúria...

Ribeirão Preto, 24 de outubro de 2019


16 de out. de 2019

DIVINO MARAVILHOSO

Meu caro, minha cara.

As festas juninas no Sesc sempre foram perfeitas. Minha vó sempre trabalhava na barraquinha de doces, o que garantia passe livre ao estoque da barraquinha para meu irmão e eu.

Uma das coisas que eu mais gostava era da fogueira. Ela era alta, quase do tamanho de uma pessoa, e ardia por dias a fio.

De noite, ela era um espetáculo à parte. Gostava quando ela soltava suas fagulhas, fuligem em brasa pelo vento.

Corria atrás delas imaginando vagalumes de fogo.

Minha vó me viu fazendo isso com outras crianças e correu em minha direção. "Para com isso menina! Para de me envergonhar!"

Me arrastou pelo braço até a mesa onde meus pais estavam.

"Para de me envergonhar"...

(...)

De onde foi que ela tirou que felicidade pode trazer vergonha?*

Ribeirão Preto, 16 de outubro de 2019

*PS: foi uma pergunta retórica. Eu acredito que sei o porquê...


14 de out. de 2019

HÁ VAGAS

Meu caro, minha cara.

Sempre pensei que fosse feita para ser sozinha.

Mal sabia eu que eu nasci para ter família.

Mas família é algo complicado: se você tem a sorte de nascer naquela em que deveria, beleza.

Se não...

A minha família não tem títulos. Tem amor.

Só que não é aquele que eu aprendi lá atrás e que já contei aqui uma vez.

É do tipo de amor de verdade.

Daquele tipo em que se gera calor.

Gostoso como passar manteiga fresca no pão doce recém saído do forno, para depois abocanhar e deixar o rosto sujo da gordura.

Ou como estender os braços e saber que eles serão recheados de abraços, beijos, cafunés, apelidinhos e brigadeiros de colher.

Daquele tipo em que um está pelo outro, sem pedir nada em troca.

Ou melhor: pedir, sim, coisas em troca.

Pedir abraços, beijos, fotos, apelidos, orgasmos, memórias, colinhos, iniciativa, "deixa comigo que eu resolvo", loucuras, piadas e afins.

Minha família ainda é pequena; há ainda muitas vagas.

Mas só se candidate se você realmente for dar conta de querer começar isso comigo de fato...

Ribeirão Preto, 14 de outubro de 2019.


AS DUNAS

Meu caro, minha cara.

Não dá para segurar a areia. Ela escapa entre seus dedos.

Por isso que eu acredito que ela é a melhor representação do tempo, pois ambos não podem ser represados.

Mas alguém pode me perguntar: "E a ampulheta?".

Eu responderia: "O que ela guarda? Areia ou tempo?".

Ribeirão Preto, 14 de outubro de 2019


9 de out. de 2019

QUAL É A SUA DOR?

Meu caro, minha cara.

É sabido (pelo menos eu acho) que o animal característico dos cancerianos é o caranguejo.

Quem estampou o caranguejo no céu foi Hércules.

Mas isso é outra história.

Como todo crustáceo, o caranguejo precisa quebrar a sua carapaça para crescer.

O ponto de quebra sempre é em suas costas.

Fico pensando se, quando eles crescem e as carapaças quebram, se eles sentem dor em suas costinhas...

...pois eu estou sentindo muita dor na minha...

Ribeirão Preto, 9 de outubro de 2019


8 de out. de 2019

AQUELES OLHOS VERDES...

Meu caro, minha cara.

Meu primeiro beijo foi aos 10 anos de idade.

Mas digo a todos que foi aos 14.

Porque, aos 14, eu beijei um rapaz.

Contudo, aos 10, beijei minha colega de classe.

Foi no quarto dela, enquanto fazíamos lição de casa. Ela tinha olhos verdes, franjinha e muitas sardas sobre o nariz.

Ela que tomou a iniciativa.

Eu deixei.

Não lembro do nome dela.

Mas aqueles olhos...

Ribeirão Preto, 8 de outubro de 2019



6 de out. de 2019

4,8%

Meu caro, minha cara.

Hoje é domingo. Dia de ir pra cozinha e fazer almoço. Já pus o frango no forno, acompanhado do clássico combo cebola-alho-tomate-batata-cenoura.

Sempre detestei frango assado.

Até que eu passei a eu mesma fazer.

Durante tudo isso, bebo cerveja.

Ah... Adoro cerveja...

...e adoro ficar bêbada...

...muito bêbada...

Ribeirão Preto, 6 de outubro de 2019


5 de out. de 2019

LEVE-ME, ORFEU...

Meu caro, minha cara.

Adoro mitologia, lendas e contos de fadas.

Não porque eles sejam apenas fantasia.

Mas porque são meios de falar coisas que, de outra forma, não poderiam ser ditas.

Hoje, lembrei de Orfeu.

Participante ativo dos Argonautas, Orfeu possuía uma harpa mágica que, quando tocada, acalmava as feras e atraia os pássaros.

Salvou muitos companheiros com a doçura de suas canções.

Um dia, conheceu a ninfa Eurídice e se apaixonou. E ela por ele.

Se casaram e eram felizes, mas outro homem desejou Eurídice e a quis para si. Eurídice fugiu, mas na fuga foi atacada por uma cobra e morreu.

Foi levada a Hades...

Orfeu se desesperou. A amava. A queria. Precisava resgatá-la.

Conseguiu convencer Caronte. Conseguiu adormecer Cérbero. Fez um acordo com o Deus dos Mortos: Eurídice poderia voltar aos vivos, desde que eles escalassem para fora de lá juntos, ele na frente, ela atrás. Mas ele não poderia voltar seu rosto para ela até que ela estivesse embebida pela luz do sol.

Voltaram. Ele com o coração cheio de esperança. Ela atrás.

Ele olhando a sombra dela. Ela atrás.

Ele sonhando com o futuro juntos. Ela atrás.

Porém Orfeu era apenas um homem... E teve medo de ter sido enganado...

Voltou seu rosto para trás, apenas para ver, por um momento, Eurídice se transformando em fantasma, arrastada de volta ao inferno por Perséfone, estendendo seus braços de fumaça para o marido, chamando por seu nome com sua voz imaterial...

Foi-se... O acordo fora desfeito, maculado por sua falta de fé.

(...)

Somos feitos de sangue, ossos e caos...

Ribeirão Preto, 5 de outubro de 2019.


2 de out. de 2019

FUNÇÃO REPEAT / Ramones - Do You Remember Rock 'n' Roll Radio?

Meu caro, minha cara.

Ah... Como a tecnologia é uma benção quando bem usada...

Quando digo isso, lembro logo dos aplicativos de música. Meu marido e eu temos uma conta em conjunto e conseguimos, com isso, conhecer, resgatar e ouvir (quantas vezes quiser) tantas músicas e estilos musicais quanto possível.

(só sinto que meu gato tenha comido meu fone de ouvido e eu ainda não tenha comprado um a altura - daí eu viraria uma verdadeira autista)

Minha última lista é dedicada ao rock e, atualmente, voltei a me encantar com Ramones. Daí, como todo encantamento, escolhi uma música para virar mantra.

Escolhi "Needles and Pins".

A história de um rapaz que viu a ex e prefere sofrer a ter que dar o braço a torcer e ir atrás dela.

(mas poderia ser a história de uma moça que viu o ex e prefere sofrer a ter que se expor e levar um fora dele)

Três semanas depois resolvi mudar o mantra. Agora vou de "Do You Remember Rock 'n' Roll Radio?"

Já que é para deixar a função repeat ativa, que pelo menos seja algo que me lembre que a gente precisa ter variedade nessa vida...

Ribeirão Preto, 02 de outubro de 2019.


"Porque ultimamente tudo soa a mesma coisa pra mim"