25 de mai. de 2012

21 de mai. de 2012

16 de mai. de 2012

O PACÍFICO ESTÁ INERTE

Meu caro, minha cara,

Geralmente, quando escrevo, eu penso no que escrever - e como levar isso a cabo - para só então achar o título do texto do mês. Mas desta vez foi o contrário: o título me achou antes que as palavras surgissem na tela. Com isso, este mês eu me impus à difícil tarefa de casar as idéias com estas palavras acima, escritas em caixa alta.
Foi na hora do almoço. Mandava um email para meu pai tentando explicar como andava a minha vida, o que estava acontecendo ultimamente. Para não cair na mesmice e dizer que nada estava acontecendo, decidi colocar um pouco de lirismo no texto e escrever que a movimentação dos meus dias estava igual ao Pacífico em dias pacíficos.
É estranho comparar a ausência de movimento com a superfície do nosso maior oceano, mas quem já assistiu o filme “Mestre dos Mares” vai ter idéia do que estou falando. Há uma cena em que não há nada: nem vento, nem marola, nem peixinho dando tchau. Nada. O navio está completamente parado pela falta de movimento ao redor. Quando comecei a escrever este texto (pois geralmente eu levo alguns dias ou semanas para escrever), eu percebia minha vida tão movimentada quanto aquela cena.
Não é de hoje que eu faço esse tipo de analogia: usar o mar como metáfora para meu mundo real (superfície) e meu mundo particular (profundezas). Embora não seja a mais criativa do mundo, ela cabe bem ao que eu preciso. Neste email que mandei, serviu para falar como as coisas estavam por cima da linha d’água.
Lembro-me de quando utilizei pela primeira vez essas imagens: estava na terapia, entre 2003 e 2004. Era praticamente um show aquático: havia tempestades, mergulhos, afogamentos. Uma loucura! E minha terapeuta lá, com vara de pescar em punho com uma isca no anzol, para me fazer voltar à tona (afinal, até onde sei, não tenho guelras). Na época, como vocês podem ver, eu gostava mesmo de ficar dentro d’água, ou seja, de frequentar só o meu mundinho. Era legal, confesso, mas garanto que não era uma atitude prática (e, nessa vida, a parte prática conta muito).
Pois um dia eu saí daquele processo terapêutico (mais por força dos fatos do que por vontade). Deixei de boiar ao sabor da maré para enfrentar a vida dentro de um barquinho (foi o primeiro “chão” que escolhi para mim). Daí para frente, consegui ir para muitos lugares. Quebrei muito mastro (ou melhor: quebrei muito a cara), mas conheci muita coisa boa nesse caminho. Sempre navegando...
Depois disso, eu parei. Aquietei. Tomei coragem de gritar “terra à vista” e fincar âncora. Por aqui fiquei. Com isso, descobri também muita coisa em terra firme e acabei esquecendo a sensação de, a qualquer momento, ficar à deriva. Foi uma boa época, e a partir dela minhas metáforas se voltaram para campos e construções: “você colhe o que você planta”, “cada um é responsável por aquilo que constrói”.
Nessa fase, eu aprendi (eu ainda estou aprendendo) a ter paciência e a demandar esforço e planejamento nas minhas ações. Confesso que é difícil, mas este foi o segundo “chão” que escolhi. A linha d’água deu lugar ao chão batido.
Contudo, há algumas semanas, percebi que a terra começou a ficar mais úmida que o normal. E então me vi novamente frente o mesmo mar que outrora eu tanto falava.
Desculpe. Não era o mesmo mar. Era mar, mas não o mesmo. Era um mar diferente.
Explico: eu disse acima que o “Pacífico” estava parado, correto? Mas mesmo em um oceano aparentemente imóvel, há muita coisa acontecendo nos níveis mais profundos: muito cardume, muito predador correndo atrás do almoço, muita tartaruguinha velha nadando de um lado para o outro. E mesmo quem não se mexe, também existe: recifes, baixios, correntes, níveis de salinidade, abismos e cordilheiras.
De forma análoga, por mais que eu estivesse na estável firmeza da terra, tudo o que me é particular estava ainda lá, dentro d’água, se mexendo, esperando por mim. Tomar consciência de solo firme foi importante, mas retomar o fôlego há muito tempo destreinado tem-se mostrado necessário novamente.
É dado o momento de voltar a mergulhar. Não mais como refúgio, mas como meio de exploração e (re)descoberta. Quando nada se mexe, é hora de observar o que se passa por baixo. Por isso, vou submergindo de tempo em tempo para ver e descrever o que está sob o marasmo e fazer um mapa do que se passa por lá. Quem sabe assim, descubro o que deixou meu mundo tão inerte como está hoje.
Entretanto, como também venho percebendo, nem só em mergulhos virão os sinais para traçar novas rotas de vida. As caminhadas que fiz em terra, as decisões que tomei nesse período - e suas consequências - me serviram de treinamento para observar o que se passa ao redor, não importa em qual elemento eu aplique esses conhecimentos. Enquanto um me ensinou a ter paciência; o outro, mobilidade. Um me ensinou a me aventurar; o outro, a planejar.

No filme, quando tudo está parado, a superstição toma conta da tripulação: há uma maldição sobre o navio. Coincidentemente, ela “termina” quando um dos oficiais, considerado o “amaldiçoado”, se suicida. Depois desse episódio, o vento sopra, o mar se agita, todos se põem a ajudar a manobrar o navio e seguir viagem. O filme continua.
É curioso ver a reação das pessoas à palavra “maldição”. A superstição é forte demais para quem dela sofre. Na mesma medida, é fácil demais se apegar a ela, pois se reserva o direito de não pensar mais sobre o assunto. Está amaldiçoado e ponto. “Não há o que ser feito...”
Em contrapartida, fardo tão pesado quanto traz a palavra “sacrifício”. Porém, abraçá-la é mais difícil, pois há de se dispor de algo muito querido e estimado para que ela tome corpo de fato. A ideia é muito bonita, mas a sua confecção sempre dói.
Por esta razão, pus-me a contar, todo mês, um pouco dos passos que começo a dar entre mar e terra, abandonando superstições e me propondo a seguir caminho novo.
Quer ir para frente? Corte a própria carne. Não por punição, mas para liberar espaço, se desfazer do peso morto. Parece clichê, mas acaba sendo uma verdade, no fim das contas. Não conheço uma só pessoa que foi para frente sem ter que se desfazer de algo que gostaria que o acompanhasse em sua trajetória. Também não conheço uma só pessoa que não seguisse viagem sem antes estudar o caminho e se preparar para ele. É clichê? É. Mas é verdade. Nada disso tem a ver com gostar os desgostar, mas se é útil ou não.
Meu Pacífico está inerte; logo, é hora de me preparar. Não há muito a ser feito além disso. Por hora, basta saber que, no velado leito de meu mar, uma profusão de vida se confunde e se realiza todos os dias. Acima, haverá vento e terra boa quando chegar a hora para tanto. Mas, para isso, faz-se necessário uma cota diária de sacrifício.
E que ninguém se engane nesta vida: há certos suicídios necessários.

(Ribeirão Preto, 16 de maio de 2012)

Cake - Perhaps, Perhaps, Perhaps



"E por favor não me fala
Talvez, talvez, talvez"

Joaquim Nabuco



11 de mai. de 2012

Jessier Quirino - Vou me embora para o passado


Recebi esse vídeo por email. Quem me mandou foi meu pai e achei divertidíssimo!

Com pegada saudosista, ao invés do poeta Jessier Quirino embarcar na fantasia de Manoel Bandeira e ir embora para Passárgada, pega o bonde para seu passado, como refúgio e antídoto para o presente sem graça.

"Vou me embora pro passado pra não viver sufocado
pra não viver poluído
pra não viver enjaulado"

Meu passado é diferente deste (relatado com sotaque tão molinho), mas é bom do mesmo jeitinho... Posto que é meu, e me transformou no que sou hoje!

Divirtam-se!

Carla Bruni - Quelqu'un M'a Dit


"Seria possível, então?"

Montesquieu

"Nada devemos fazer que não seja razoável; mas nada também de fazermos todas as coisas que o são."