Meu caro, minha cara...
Encontrei o Mickey Encardido na Mogiana, quase chegando na Brasil. Tinha um papel alumínio com um sanduíche de pão de forma numa mão e a outra seguia estendida.
O rosto já não tinha mais nenhuma expressão. Acredito que a causa são os anos de sujeira e indiferença alheia que lhe fora transferida.
E não vou diminuir meu papel nisso, pois também mantive minha janela fechada.
Às vezes indo, às vezes voltando, encontrava o Mickey Encardido com pele de noz no mesmo quase cruzamento, com a mão aberta e o rosto vazio.
Uma vez tinha moedas no console e baixei o vidro. Levei a minha mão até a dele e despejei as moedas.
"É tudo o que eu tenho".
Não era. Eu tinha mais, tenho mais. Não ali, naquele agora, mas sei que tenho mais a dar e a fazer.
Mas do coração à mão há um mundo de distimia.
Naquele segundo de auto indulgência toquei em sua mão. A pele cor de noz também tinha textura de noz.
Casca dura abrigando fruto destroçado.
Casca dura abrigando fruto destroçado.
Abriu o verde e segui em frente.
Seguia para minha casa.
Ele seguiu no meu retrovisor. Seguiu na casa dele.
Ribeirão Preto, 09 de novembro de 2022.