9 de nov. de 2022

MICKEY ENCARDIDO

Meu caro, minha cara...

Encontrei o Mickey Encardido na Mogiana, quase chegando na Brasil. Tinha um papel alumínio com um sanduíche de pão de forma numa mão e a outra seguia estendida.

O rosto já não tinha mais nenhuma expressão. Acredito que a causa são os anos de sujeira e indiferença alheia que lhe fora transferida.

E não vou diminuir meu papel nisso, pois também mantive minha janela fechada.

Às vezes indo, às vezes voltando, encontrava o Mickey Encardido com pele de noz no mesmo quase cruzamento, com a mão aberta e o rosto vazio.

Uma vez tinha moedas no console e baixei o vidro. Levei a minha mão até a dele e despejei as moedas.

"É tudo o que eu tenho".

Não era. Eu tinha mais, tenho mais. Não ali, naquele agora, mas sei que tenho mais a dar e a fazer.

Mas do coração à mão há um mundo de distimia.

Naquele segundo de auto indulgência toquei em sua mão. A pele cor de noz também tinha textura de noz.

Casca dura abrigando fruto destroçado.

Abriu o verde e segui em frente.

Seguia para minha casa.

Ele seguiu no meu retrovisor. Seguiu na casa dele.


Ribeirão Preto, 09 de novembro de 2022.