30 de ago. de 2013

AINDA BEM...

Meu caro, minha cara,

Ainda bem que nada de mais grave aconteceu.
Decerto vou ter que gastar o dinheiro que guardei para a minha viagem de férias por causa de hoje, mas nada grave aconteceu.
Também é certo que vou ter que me apertar por um tempo, mas ainda bem que tudo é contornável.
Digo tudo isso porque é verdade. E tenho como provar.
Nesta madrugada meu carro foi arrombado dentro da garagem da minha casa. Não levaram nada. Nem mesmo meu som novo. Ao contrário. Deixaram-me algo indesejado: uma porta inutilizada. Trouxeram-me algo indesejado: intranquilidade. E tudo isso dentro da garagem da minha casa.
Qual não foi a minha surpresa quando saía para trabalhar hoje de manhã e vi as portas apenas encostadas e esgarçadas. O interior revirado. O portão da garagem intacto. Um enigmático copo descartável jogado no banco de trás.
Qual não foi a minha surpresa...
Olhei para aquilo e sentei. E olhei de novo. E pensei: tenho que ligar para minha chefe e falar o que aconteceu. Tenho que ligar para a polícia e para a seguradora.
Ainda bem que mantive a calma.
E ainda bem que isso aconteceu este mês, porque se fosse entre fevereiro e julho, eu teria me afundado mais e mais na minha depressão, doença que me corroeram os dias e que me deixou marcas muito doídas.
Ainda bem que eu pude sentir e pensar. Foi o que norteou o que eu deveria fazer no momento.
Em uma manhã resolvi parte do meu problema e organizei a outra metade. Agora, é aguardar os fatos.
Durante esse período, enquanto ia de um lado ao outro para combinar os reparos, pensava: “Que desgraça! Justo quando comprei meu som! Demorei tanto pra conseguir isso e quase que ele é roubado...”. E quando estava prestes a maldizer a aquisição, eu me corrigi. Eu me lembrei de que não posso me culpar pelas conquistas que tenho e que tentam me tomar à força.
Não chegou a ser uma epifania, mas foi um belo dado de realidade.
Ainda bem que faço terapia. Sem ela, não teria chegado a essa conclusão tão rápido.
(...)
Curioso como nos lamentamos quando coisas ruins acontecem e nos deixamos levar por elas. Hoje foi um desses dias em que aconteceu uma dessas coisas ruins. Porém, ao contrário da minha reação normal, eu passei mais tempo lembrando as coisas boas, ou das coisas piores que poderiam ter acontecido - mas não passaram de possibilidades.
Poderiam ter roubado meu som, mas ainda bem que não roubaram.
Poderiam ter roubado meu carro, mas ainda bem que não o fizeram.
Poderiam ter invadido minha casa, mas ainda bem que isso não aconteceu.
Poderia ter me descontrolado, mas ainda bem que mantive o pensamento claro.
Poderia ter acontecido com alguém que não tivesse recursos para consertar a situação, mas ainda bem que aconteceu comigo, e não com ela (seja “ela” quem for).
Ainda bem que não estava presente no momento que fizeram isso. Ainda bem que ninguém se machucou.
(...)
Hoje não foi um dia feliz. Consigo chorar um pouco, mas ainda bem que tenho minhas lágrimas, porque elas aliviam a tristeza.
(...)
É estranho pensar que em situações assim é possível ter momentos de agradecimento. Ainda bem que eles existem e que, por eles, eu posso olhar para o outro lado e ver algo de bom.
E mais do que tudo: ainda bem que eu consigo falar sobre isso.

(...que outros fatos como esses não cruzem meu caminho, mas que eu continue pensando dessa forma caso eles sejam inevitáveis)


Ribeirão Preto, 30 de agosto de 2013.

Ramón Campoamor y Campoamor


Titãs - O Pulso


"Estupidez"

12 de ago. de 2013

The Beatles - Magical Mystery Tour


"A turnê magica e misteriosa
Está aguardando para te levar embora
Aguardando para te levar embora"