Meu caro, minha cara.
Ribeirão Preto, 19 de novembro de 2021
Meu caro, minha cara.
Ribeirão Preto, 19 de novembro de 2021
Meu caro, minha cara.
Caminhei pela grama macia até o topo do campo, com seu aclive suave e um sol e céu límpidos acima de mim.
Na mão, dois buquês.
Ajoelho para deixar o primeiro buquê no campo ensolarado. Acaricio as rosas pensando que eu acariciou suas mãos. Mãos sempre macias, quentes e gordinhas, cheias do afeto que poderia dar.
"Sempre te dei flores vivas porque queria que elas continuassem vivendo e florescendo ao seu lado", como se o ciclo de florescer e fenecer fosse uma exclusividade só das flores, não da planta em si.
Hoje, te dou um buquê de flores mortas, mas lindas, pois a beleza da flor acaba num momento, assim como a sua beleza também se foi.
Depois, me volto para o segundo buquê. São astromélias amarelas.
"Nunca te dei flores. Acho que foi um desperdício de tempo não ter te dado buquês antes. Nem sei ao certo sua cor preferida e eis-me aqui, com flores amarelas".
"Sinto sua falta. Sinto muito a sua falta..."
("por que vocês tinham que levar ao pé da letra a história de que um não podia viver sem o outro?")
Enquanto penso em tudo isso e procuro sublimar a minha saudade escrevendo, um tratorista passa atrás de mim perguntando as horas. "São 10:18h", respondi.
"Obrigado!"
"De nada..."
Isso me faz lembrar que a vida segue, o tempo passa e o campo florido se prepara para receber mais flores mortas.
(...)
Voltando para o carro, escuto as cigarras e vejo flamboyants floridos ao longe, perto de coqueiros sem cocos.
"Vocês também florescerão e fenecerão", digo a elas e às cigarras.
E digo isso a mim mesma, enquanto fecho a porta do carro e ligo o motor para ir embora daqui...
Mococa, 5 de novembro de 2021.