19 de nov. de 2021

A MAIS INTELIGENTE DA CASA

Meu caro, minha cara.

Digo e repito: o ser mais inteligente aqui em casa é a Margot.

Não que o QI meu e do meu marido seja baixo, não é esse o caso.

Mas a Margot é, de longe, o mamífero mais inteligente entre essas paredes que chamamos de lar.

Ela não dá nó em pingo d'água. Ela não canta a música tema do GOT miando (acho aquele vídeo um sarro). Tampouco participa de um certo dueto de Puccini.

Ela não faz nada de extraordinário,  exceto ser espontânea e, espontaneamente, busca ter e fazer as coisas que gosta.

Ela não é hedonista e nem mimada. Até porque, para um gato, ela obedece bastante a gente. Mas é um prazer ver como ela lida com qualquer adversidade: ela dá de ombros a obstáculos e vai atrás do que quer, seja um petisco, um besourinho ou um brinquedo. Quando o Juvenal está dormindo e ela quer brincar, ela o acorda (se ele gosta de ser acordado, aí já é outra coisa...). Quando a Riccota está mau humorada, ela desvia do seu caminho e continua. Quando ela quer colo, ela pede pra gente.

Ela não liga para essas coisas que, se fosse comigo, eu ligaria; coisas como "o que os outros vão pensar?" ou "será  que devo/não devo fazer algo?"... "será que isso é encanação minha?" sabe? esse tipo de coisas...

Ela é engenhosa, curiosa, tem energia e é muito meiga (exceto quando come as minhas plantas).

Ela me lembra sempre que é preciso se mexer para se ter o que quer; que conseguimos algo quando vamos atrás.

É o que ela faz todos os dias.

Por isso a considero a mais inteligente por aqui.
Já disse em mais de uma ocasião que a gente nunca sabe de onde vem a informação ou a ideia que nos fará pensar/agir diferente.

Nos últimos tempos, essa filhotinha tem me ensinado muito. Mas é preciso praticar também.
Pois bem: quero ser inteligente como ela e ter prazer com o que é simples.

Obrigada, meu bebezinho...


Ribeirão Preto,  19 de novembro de 2021




5 de nov. de 2021

CAMPO COBERTO DE FLORES

 Meu caro, minha cara.


Caminhei pela grama macia até o topo do campo, com seu aclive suave e um sol e céu límpidos acima de mim.

Na mão, dois buquês.

Ajoelho para deixar o primeiro buquê no campo ensolarado. Acaricio as rosas pensando que eu acariciou suas mãos. Mãos sempre macias, quentes e gordinhas, cheias do afeto que poderia dar.

"Sempre te dei flores vivas porque queria que elas continuassem vivendo e florescendo ao seu lado", como se o ciclo de florescer e fenecer fosse uma exclusividade só das flores, não da planta em si.

Hoje, te dou um buquê de flores mortas, mas lindas, pois a beleza da flor acaba num momento, assim como a sua beleza também se foi.

Depois, me volto para o segundo buquê. São astromélias amarelas. 

"Nunca te dei flores. Acho que foi um desperdício de tempo não ter te dado buquês antes. Nem sei ao certo sua cor preferida e eis-me aqui, com flores amarelas".

"Sinto sua falta. Sinto muito a sua falta..."

("por que vocês tinham que levar ao pé da letra a história de que um não podia viver sem o outro?")

Enquanto penso em tudo isso e procuro sublimar a minha saudade escrevendo, um tratorista passa atrás de mim perguntando as horas. "São 10:18h", respondi.

"Obrigado!"

"De nada..."

Isso me faz lembrar que a vida segue, o tempo passa e o campo florido se prepara para receber mais flores mortas.

(...)

Voltando para o carro, escuto as cigarras e vejo flamboyants floridos ao longe, perto de coqueiros sem cocos.

"Vocês também florescerão e fenecerão", digo a elas e às cigarras.

E digo isso a mim mesma, enquanto fecho a porta do carro e ligo o motor para ir embora daqui...


Mococa, 5 de novembro de 2021.