30 de jan. de 2020

APRENDA A CALAR A BOCA

Meu caro, minha cara.

Há muitos anos, quando eu ainda tinha sangue nos olhos e asas nos pés, fui escalada a participar de uma entrevista junto com uma amiga minha.

Ela estava muito p*** por ter que fazer aquela entrevista e não queria ir sozinha (acho que para não ter que cometer um assassinato...)

O porquê de tudo isso? O entrevistado era filho de um parceiro importante de negócios da empresa. Graças ao cosmos, a pessoa que pediu a entrevista (um dos pináculos da empresa), avisou que seria uma entrevista sem compromisso e que deveríamos avaliar o rapaz com o mesmo critério que qualquer outro.

(ufa...)

(Um pequeno adendo: tive sorte de trabalhar numa empresa onde nunca tive que passar por essa situação, a de contratar alguém porque alguém "lá de cima" mandou)

Pois bem. Chegou a hora da entrevista e lá fomos nós receber o rapaz.

No currículo, experiência em banco, habilidade avançada no Excel e um TCC baseado no estudo de caso sobre em uma empresa de grande porte.

E, a partir daí, o show de horrores começou...

Sobre o que estava no currículo e o que ele falou sobre BANCO:

- experiência com análise de relatório de perdas;
- elaboração de planos de ação;
- outra coisa que eu não vou lembrar agora.

Só que ele não sabia que...

...eu já trabalhei em banco;
...analisando relatórios de dividas em perdas;
...elaborando e executando planos de ação de recuperação;
(E foi assim que consegui minhas duas promoções durante o período que trabalhei lá)

O resultado dessa etapa foi que ele acabou admitindo que não analisava nada, só imprimia os relatórios para sua gerente... E ficava esperando qual o próximo relatório que precisaria tirar.

Sobre o que estava no currículo e ele falou sobre TCC:

- Participação no estudo de caso em uma grande empresa da cidade
- análise da área de gestão e logística
- devolutiva à empresa sobre os dados pesquisados

Só que ele não sabia que...

...sempre fui louca por pesquisa científica
...sigo à risca o que está na ABNT
...a minha amiga tinha trabalhado em uma empresa com foco muito forte em gestão de resultados (uns verdadeiros tarados por indicadores e performance...)

O resultado dessa etapa foi que ele acabou admitindo que o TCC foi em grupo e ele não soube responder:

- qual era o ponto que foi investigado
- quais os resultados que foram observados
- quais as sugestões de melhoria que eles deram para a empresa

(Tirem suas próprias conclusões sobre como que ele conseguiu tirar nota não sabendo nada a respeito do próprio trabalho)

Sobre o que estava no currículo e ele falou sobre EXCEL:

- sólidos conhecimentos
- muita experiência
- sólidos conhecimentos (de novo)

Só que ele não sabia que...

...minha amiga era (e continua sendo) muito ninja no Excel...

O resultado dessa etapa foi que ele mentiu saber programação em macro NA CARA LARGA, mesmo não sabendo explicar como funciona o PROCV.

(...)

O resultado? Nos despedimos educadamente e demos uma devolutiva de que "no momento não temos nenhuma vaga para seu perfil".

(...)

Eu entendo que a busca de um emprego (ou qualquer outra coisa que se julgue valer a pena) seja algo necessário e desejoso para qualquer ser humano normal, mas, se for para mentir num currículo ou numa entrevista (ou em qualquer outra coisa), cale a boca...

O crime não compensa, não...

Ribeirão Preto, 30 de janeiro de 2020


28 de jan. de 2020

ONOMATOPEIA PARA UM GRITO

Meu caro, minha cara.

AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!

Pronto. Gritei.

Eu, tão esperançosa em 2020, só tô levando lapada na cara.

Não que só tenha acontecido desgraça. Não tem desgraça nessa história. Só coisa chata.

Mas se as coisas chatas que estão aparecendo em janeiro forem uma constante do universo (assim como a morte e os impostos), eu tô fudida.

Não vou aguentar outro 2019 travestido de 2018, versão requentada de 2017, que, na verdade, foi uma extensão de 2016, que começou como uma corrida maluca em 2015...

Algum coach de YouTube pode ver isso e falar "pense positivo", "reprograme seu mindfullness", "se ainda não deu certo é porque ainda não chegou ao fim".

(e eu já falei isso antes sobre esse tal "se ainda não deu certo...")

Enfia essa reprogramação mental no c*!

Cansei! Cansei! Canseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei!

Ribeirão Preto, 28 de janeiro de 2020

ps: há coisas boas acontecendo? várias! mas eu não queria tanta obrigação chata tomando meu tempo de curtir as coisas legais assim... cacete... parece uma sucessão de fases do Prince of Persia...


The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band



"Apenas assuma, sim"

27 de jan. de 2020

A MULHER DO CHOPP

Meu caro, minha cara.

2019 foi um ano de muitos questionamentos.

Entrei em contato com meu eu e perguntei: "o que tu quer da tua vida? De verdade! O que?".

Daí eu parei, olhei, pensei, respirei fundo e disse: "meta de vida: virar a mulher do chopp (mas sem a parte do chopp)".

Explico.

Meses atrás conversava com um amigo meu e me perguntava porque eu havia gastado tanto dinheiro com estudos, sendo que, se eu tivesse investido esse dinheiro em procedimentos estéticos e cirurgias plásticas, eu poderia estar agora depressiva e rica ao lado do meu marido latifundiário, com um filho pra garantir o contrato, um cartão de crédito ilimitado e um vazio existencial tão grande quanto.

Ou seja: o sonho de consumo de muita gente por aí.

Daí ele me manda o vídeo da mulher do chopp: uma morena bem bonita, garçonete em um bar, vestida com um biquíni tamanho infantil, cuja única função era servir copos de chopp com a bunda.

Sim.

Com a bunda.

(Procure no YouTube depois a gostosa que serve com a bunda. Você vai me entender).

Na primeira vez que vi o vídeo, eu reparei em duas coisas: 1) ela desperdiça muito chopp e nao sabe deixar o colarinho na espessura certa. 2) coliformes fecais.

Mas os caras que estavam sendo servidos não ligavam muito para essas coisas não.

Daí eu coloquei como meta virar a mulher do chopp (mas sem a parte do chopp).

Não porque eu quero que os caras reparem em mim. Mas porque eu quero parar de sentir dor nas costas, nos joelhos e parar de me sentir tão disforme...

E hoje foi o dia 1: entrei na academia e fiquei 1h lá dentro suando, suando e suando.

O pior é que eu gostei.

Bom... Veremos.

Por enquanto, #TáPago

Ribeirão Preto, 27 de janeiro de 2020

Ps: #TáPagoDeC*ÉR***


24 de jan. de 2020

SHYLOCK DE NOVO

Meu caro, minha cara.

Hoje Shylock veio à minha mente novamente por causa de uma situação que aconteceu no trabalho.

Em suma, um desentendemento, uma falha na comunicação em diferentes níveis e setores e unidades que culminou em stress geral.

O famoso "eu faço isso", "eu dou o sangue", "não recebo nada em troca" típico desse tipo de situação.

Ninguém está errado e ninguém está certo.

Por que lembrei de Shylock? Porque, por traz de cada expressão que coloquei acima, há um "o errado é o outro e eu que tenho razão".

Assim como Shylock. Ele tinha a sua razão de fazer o que queria fazer.

Mas só a razão dele bastou?

(...)

Pessoas com histórias diferentes educações diferentes instruções diferentes experiências diferentes motivações diferentes valores diferentes pontos de vista diferentes preocupações diferentes dificuldades diferentes intelectos diferentes cobranças diferentes habilidades diferentes percepções diferentes.

(...)

E o problema ainda é a trava no olho do outro...

Ribeirão Preto, 24 de janeiro de 2020.


23 de jan. de 2020

QUATRO BOCAS

Meu caro, minha cara.

Boca 1: uso para ferver a água do chá que, julgo eu, vai me ajudar com o colesterol e com a dependência do café.

Boca 2: uso para esquentar a bolsa de gel. O calor fará com que meu pescoço melhore.

Boca 3: uso para preparar os ovos. Dois para mim, dois para ele, temperados com lemon pepper e cozidos por 5 minutos. Proteína ao invés de carboidratos à noite.

Boca 4: uso para ficar em silêncio, para dar respostas curtas a perguntas compridas, para dizer que quero ficar quieta.

Ribeirão Preto, 23 de janeiro de 2020.



20 de jan. de 2020

COMO QUE EU FUI PARAR NA TERAPIA.

Meu caro, minha cara.

Eu não lembro bem se foi uma sexta ou num sábado, mas sei que foi no 2º ano de faculdade e estava frio.

Na época, eu era estagiária no laboratório de informática e aquele era meu primeiro trabalho remunerado na vida. Era monitora do laboratório de manhã e, à tarde e à noite, estudava na faculdade.

Em suma: saia de casa antes das 7h e voltava pra casa depois das 23h.

E isso não era o pior: eu morava com uma moça que se revelou uma tremenda megera pirracenta, que encanava com cada "falta" minha. Para ela, chegar depois das 23h e cansada não era desculpa para eu não limpar o banheiro numa quarta feira à noite com 10° de temperatura...

Eu ainda namorava essa época. Ou pelo menos era o que ele me fazia acreditar: já havia se formado e estava na cidade dele, estudando para concursos. Por telefone ele dizia quee estávamos juntos, mas eu sabia que, no coração, estávamos em planetas diferentes.

Só que quem fez isso não foi a distância. Foi ele. No dia 17 de novembro do ano anterior.

Eu ainda não havia me tocado a respeito, mas sentia isso no meu corpo inteiro.

Pois bem: minha vida não estava lá nos seus melhores dias e a única coisa que eu queria era sumir. Só levantava de manhã cedo porque tinha que ir para o estágio e ganhar a bolsa para me sustentar. Tinha que ir para as aulas para ser a primeira neta da minha avó a ter diploma.

Quantas "responsabilidades"...

E chegou o dia, que eu não me lembro se era sábado ou sexta. Sei que era à tarde, estava no 2º ano, estava nublado e frio.

Mesmo cansada, eu tinha dificuldades para dormir. Mesmo tomando remédios para domir, só conseguia "descansar" cerca de 5 a 6h por noite.

Chegou o final de semana e eu não sabia existir.

Comecei a fazer contas: quantos comprimidos eu precisava tomar para dormir um final de semana inteiro?

Acho que foi numa 6ª feira isso... pois eu contei 3 noites e 2 dias: 60h no total.

Precisava tomar 10 comprimidos.

Estava retirando os comprimidos da cartela quando me fiz a seguinte pergunta: "e se tiver algum efeito colateral por causa dessa quantidade?"

Eu não queria ter que acordar durante o final de semana. Eu queria dormir e acordar na 2ª feira seguinte para ir ao estágio...

Nem para acordar, tomar outro comprimido e dormir eu estava com paciência.

Só queria apagar a minha existência e ressucitar no terceiro dia.

Não vi a bula do remédio. Não precisei. Me assustei com o que poderia acontecer, com o que eu achava que poderia/deveria acontecer se eu fizesse aquilo.

Não lembro para quem eu pedi ajuda, mas na 2ª feira eu fui até a clínica social da faculdade e pedi uma avaliação.

Somando todo o tempo que eu fiz/faço terapia, já foram 12 anos.

Hoje eu entendo o que aconteceu.

Hoje não tem tanto lixo na minha vida.

(...)

Faz quase 19 anos desde aquele dia, em que eu estava disposta a deixar de existir, mesmo que por alguns dias.

Escolhi existir e não tive alívio algum. Foi foda. Céus, como aquilo foi foda... Ninguém tá preparado pra isso...

Mas agora eu entendo o que aconteceu.

E alívio de verdade é não ter que carregar o lixo dos outros...

Ribeirão Preto, 20 de janeiro de 2020.


19 de jan. de 2020

CAMISETA MOLHADA

Meu caro, minha cara.

Peguei banco agora à tarde e fui resolver coisinhas que só se resolvem em horário comercial. Fui no médico, na farmácia, na outra farmácia, na outra outra farmácia, no posto de combustível.

Ufa...

Decidi que era a hora de me dar algo.

Algo mais permanente que um chá gelado ou um pão de mel.

Entrei na loja de sapatos que eu gosto. Provei, provei e provei e acabei pegando uma rasteirinha.

O vendedor me acompanha até a porta e se despede como a minha melhor amiga.

Na saída, chuva.

Pingos grossos e pesados. E caindo mais e mais.

Encarei. Sorrindo. Dando risada por dentro das pessoas que fugiam da chuva.

Andei devagar até o carro. Nesse pequeno caminho, me pego lembrando das enchentes que houveram em Santos: água até os joelhos, pessoas desesperadas querendo "se salvar" e eu, feliz da vida com tanta água.

Me pego lembrando do dilúvio que pegamos no primeiro mês de faculdade: 10 "crianças" voltando para suas respectivas repúblicas e pensões correndo pelas ruas, chutando a água das enchurradas uns nos outros, ao som de gritos de "cuidado com a leptospirose!".

Me pego lembrando da primeira casa que morei em Ribeirão: um sobrado que, na parte de cima, tinha um grande terraço. Era uma república mista e numa noite de chuva como aquela, saímos para o pátio para brincar de pegar gripe.

Chego no carro ensopada.

E dando risada.

Minha camiseta era branca.

Ribeirão Preto, 17 de janeiro de 2020.


4 de jan. de 2020

MENTIRINHAS...

Meu caro, minha cara.

Se aquiete, minha cara... As coisas são assim mesmo: ora coração aos pulos, ora mansidão sem fim ou começo.

Há quem diga que isso é auto  regulação; outro vai dizer que é experiência/maturidade.

Mas eu só vou te dizer, espelho, que isso que você está sentindo é apenas a sensação que a gente tem quando se curva ao inevitável.

Quando as coisas não têm mais jeito, ajeitadas estão, e azar de quem acredita que "se ainda não deu certo, é porque não chegou ao fim".

Pois certo e errado são apenas pontos de vista e aprendizado.

Se aquiete, minha cara. Se aquiete em frente a esse espelho e lembre-se que você não é a última Coca Cola gelada do deserto.

Esse "não há coisa que você não possa fazer" é uma babaquice sem tamanho, só pra te distrair do que realmente importa: você, sua vida e seus sabores (bons ou ruins).

Se aquiete, meu bem. Você vai ver que só existe um final, e que ele é comum para todos nós. O resto? O resto é ciclo...

Se aquiete, espelho...

Ribeirão Preto, 04 de janeiro de 2020


2 de jan. de 2020

Descartes

POBRE DA SARDINHA...

Meu caro, minha cara.

(me vejo em frente a uma tela em branco, querendo colocar letras pretas nela)

(...)

(ok... vamos lá)

Sardinha é peixe e peixe é bicho burro. Acho que tem mais instinto do que cérebro. Tem mais chances de sobreviver em grupo, mas é em grupo que se denuncia e é pega.

Morre sufocada nas redes, é estripada, limpa e vendida.

Vai para a panela, para a brasa, para o forno. E fede.

Céus! Como cheira forte, e cheiro forte nunca é coisa boa...

Tem gente que gosta de comer... Que seja, já tá morta mesmo...

E o duro é que, mesmo morta e devorada, ainda não a deixam em paz.

Pois, figurativamente falando, ela é posta num cabo de guerra imaginário, com milhões e milhões de desejosos querendo puxar a bendita da sardinha holográfica para seu lado.

(e foda-se o lado do outro)

(...)

Eu não sei porque eu entro NESSE cabo de guerra.

Não dá para, simplesmente, abrir mão?

Eu nem gosto tanto assim de sardinha...

Ribeirão Preto, 02 de janeiro de 2020.