Casca dura abrigando fruto destroçado.
9 de nov. de 2022
MICKEY ENCARDIDO
Casca dura abrigando fruto destroçado.
30 de jun. de 2022
29 de jun. de 2022
28 de jun. de 2022
27 de jun. de 2022
22 de jun. de 2022
CÉU SEDA
Meu caro, minha cara.
Saio do trabalho com o sol se pondo.
Adoro o outono por causa do céu: ele é quente e tem as cores muito, mas muito saturadas.
Dessa vez, não foi diferente: céu perfeito de fim de dia, vermelho e rosa e laranja e azul e roxo, um céu macio que, se pudesse, vestiria a gente, cobriria o corpo com suavidade sem fim.
Agora, o céu está no meu retrovisor. Paro de prestar atenção nele e passo a olhar nos outros motoristas.
Céus... compraram a carteira, só pode: festival de motoqueiros impacientes, que entram na contramão só para ganhar mais três metros de rua. Os carros não ficam atrás. Ou andam no meio da rua, ou cortam a sua frente para andar em segunda.
Eis-me lá, praticando a paciência que não tenho.
Olho mais uma vez no retrovisor e vejo um vulto. O vulto vira uma bicicleta. Nela, um pai leva seu filho para casa. Bicicleta, bermuda, chinelo, cadeirinha, 10 milhões de cintos de segurança, mochilinha e duas perninhas gordinhas balançando, sacudidas pelo asfalto irregular.
O pai toma fôlego e atravessa a rua, dosando as pedaladas para evoluir no caminho sem se meter na frente de algum carro.
O rosto do menininho, que não tem nem um ano de idade, era só curiosidade por um mundo que ainda nao entende. O rosto do pai, era de esforço e fé.
Aquela fé de se fazer o que é certo e de saber que há bons frutos no futuro.
Aquele amor saturado de mais amor. O amor e a esperança que abraçam e aquecem sem tocar.
O semblante esculpido outono após outono, que espera o prolongamento de si com alegria modesta e paciência.
Amor com panturrilhas torneadas e orgulho daquelas perninhas.
Amor macio.
Amor seda...
Ribeirão Preto, 22 de junho de 2022
20 de jun. de 2022
10 de jun. de 2022
FAMA, VINHO E ÁGUA
27 de abr. de 2022
Roy e Decker
Meu caro, minha cara.
Decker chega no prédio carcomido e sobe pelo elevador. Roy o espera e isso não é segredo para ninguém.
Os dois lutam. Ou brigam. Sei lá... Muita porrada misturada com parede que desaparece nessa história...
Sobe andar, desce andar e, por fim, param no telhado.
Chove demais nessa noite.
Demais...
Mas tudo que começa, termina.
E o princípio do fim foi um olhando para o outro, sentados, na chuva.
"Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-C brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva."
A cabeça platinada se abaixa, os olhos se fecham, e lá se foi ele para o vazio da inexistência - o mesmo destino que Decker terá um dia. O mesmo destino que a água que cai dos olhos tem ao tentar concorrer com aquela que cai do céu...
(...)
Ribeirão Preto, 27 de abril de 2022.