25 de nov. de 2020

Kiss - Ace Frehley - Fractured Mirror


 

FRATURA EXPOSTA

Meu caro, minha cara.


Não há dúvida de que somos seres arrogantes. Pelo menos, não para mim. E mesmo sem saber, sem querer o somos, diga-se de passagem.

Logo que emito isso, há sempre um ofendido de plantão. Fala-se em modéstia, humildade, até servidão. Mas é isso que o arrogante faz, não é verdade? Arroga para si algo que... se tivesse de fato, não precisaria abrir a boca.

Não temos o dia e hora marcados para encontrar o amor, pedir desculpas, dirigir com segurança, criar responsabilidade, perder a virgindade, tirar 10 na prova, dar o primeiro beijo - ou o último, brigar, achar emprego, oferta no mercado, comprar um carro, uma casa, um picolé. 

Arrogantes, planejamos a próxima compra, a próxima meta, a próxima festa, o próximo jogo como se não houvesse amanhã. Ou, melhor dizendo, como se sempre houvesse amanhã.

E, enquanto os protestos ainda estão mudos, aproveito o vácuo para perguntar quem apregoa finitude, fracasso, limite?

"Mas também temos esperanças!", grita a pessoinha que quer um mundo melhor. E é o que também quero. Mas de esperança em esperança, quantos não atingem apenas a metade da expectativa de vida, ao invés de atingir as expectativas para a própria vidas? E por quê? Porque apregoamos a nós o tempo e o poder, deuses que nos ceifam enquanto se fazem de escravo.

"Mas então de nada adianta?", grita a pessoinha que se frustra com o estouro da sua bolha de sabão. Eu devolvo a pergunta: "Precisa?".

Precisamos mesmo de tanto?


Ribeirão Preto, 25 de novembro de 2020