3 de ago. de 2014

TÃO CERTO QUANTO A MORTE E OS IMPOSTOS

Meu caro, minha cara,

            Um dia, em algum momento, nossa fatura chega.
Tudo que vai, volta.
Tudo que se planta, colhe.
Tudo que se dá, se recebe.
E, mesmo sendo clichês mais do que conhecidos, quero ver quem será o primeiro a desdizer o que coloquei há pouco.

Alguns dizem que é justiça divina. Outros, que é a física dando o ar da graça com sua ação e reação. Alguns vão dizer que é a energia que a gente vibra.
Não importa. Em algum momento, de alguma maneira, recebemos a paga de nossos esforços. Nosso salário vital, em forma de consequências. E é com eles que deveremos nos virar até o próximo rendimento. Até que o próximo seja o último.
Seja sincero consigo próprio e faça um exame de consciência: o que veio para suas mãos sem que você próprio não tivesse que despender tempo e esforço? Seja tempo curto e pouco esforço, mas, sem os dois, o que veio para suas mãos?
Sei que é um exercício que aparentemente fácil, mas tente. É necessária muita maturidade para fazer isso, pois direcionar o olhar para essas coisas geralmente é cruel. Se estiver achando que é fácil, tente com alguma coisa ruim que lhe aconteceu: porque levei uma bronca no trabalho, por que levei um fora dele/dela, por que estou sofrendo dessa doença, por que não consigo me livrar dessa situação.
Se, em algum dos exemplos que dei a pouco, você não encontrou qual a sua parcela de responsabilidade no resultado final, então eu lamento por ti. Sem pudor algum afirmo que você é a principal vítima da sua ignorância.
E não tenho pena alguma por ti por isso.
Caso você tenha sido acometido por pequeno estado depressivo, te dou os parabéns. Dar conta de nossas atitudes e de seus resultados não é tarefa agradável. Não somos perfeitos e em situações assim devemos ser generosos, pois se não conseguirmos ser generosos com nossos erros, não seremos com os dos outros.
(quero ressaltar o que disse: PEQUENO estado depressivo. Para aqueles que já foram buscar o flagelo por causa desse exercício reflexivo, só tenho uma coisa a dizer: cresça).

O caminho para chegar até esse assunto não foi fácil - nem rápido. E a melhor forma de falar a respeito é comentando um filme que assisti a alguns anos, que trata justamente disso: o que colhemos?
O filme se chama “Depois da Vida”. É japonês e se passa no que nós, ocidentais, chamamos de limbo ou purgatório.
Nele, os recém-desencarnados vãos para uma estação onde recebem uma missão. Cumprida a missão, eles poderão ir para a eternidade viver no céu ou no inferno, conforme a vida que levaram neste plano.
A missão é tão “simples” quanto o exercício que passei há pouco: cada um tinha uma semana para pensar e escolher um momento de sua vida, entre todas as suas lembranças, para se lembrar para sempre. Assim que a lembrança fosse escolhida, a pessoa só se lembraria dela.
E apenas ela.
Para sempre.
Alguns ficavam em dúvida sobre qual das lindas lembranças queria viver para sempre. Outros já tinham certeza do que queriam. Havia aqueles que, desgraçadamente, percebiam naquela semana fatídica que sua vida fora um grande vazio e que não havia nada que valesse a pena viver novamente.
Para essas pessoas, o céu e o inferno eram apenas lembranças bem ou mal escolhidas, de vidas vazias ou cheia de significado para quem as viveu.
Por anos me lembrei deste filme e desta mensagem, que ficara incubada em mim para que pudesse sair no momento correto. Até isso acontecer, vi às duras penas que as desgraças acontecem pelas nossas ações, reações e omissões. As vitórias? Também pelas mesmas ações, reações e - porque não - omissões. Todas elas acompanhadas pelo tempo, medido em décadas, anos, horas, minutos e segundos.
Minha maior dúvida desde que assisti a este filme foi: devo deixar para depois o questionamento do que faço hoje? Qual o melhor momento para que eu reflita sobre os rumos de minha vida e o que devo e quero fazer com ela?
E após questionar? E depois de ponderar? O que farei eu?
Até o presente momento, para mim, a resposta foi ter um pouco mais de coragem e cara de pau. Tais atitudes me deixam mais exposta para o bom e para o ruim. Bom porque deixo o que quero mais claro. Ruim porque não tenho experiência em fazer isso e exagero às vezes.
Paciência...
Sabe-se lá qual a conclusão que meus caros e minhas caras terão depois de pararem para pensar a respeito... (se pararem para pensar, é claro).
Não gostaria de esperar até uma possível próxima vida para saber o resultado do que faço hoje. Espero, no máximo, alguns anos, mas não uma vida inteira. Já combinei comigo mesma que minha paciência se resumirá a esta existência e mais nenhuma outra!
Mas, para isso, é necessário parar para pensar e parar para agir. Visto que tudo que vai, volta. Tudo que se planta, colhe. Tudo que se dá, se recebe. Um dia, nossa fatura chega. Tão certo como a morte e os impostos.


Ribeirão Preto, 3 de agosto de 2014.

Denis Diderot


Madredeus - O Navio


"E vou nesta corrente"