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NÃO HÁ DESCRIÇÕES PARA AMOR
Minha mãe me ama.
Mas não foi o amor que eu sonhei.
Na verdade, não foi a vida que eu
sonhei. E nem a vida que ela sonhou para mim. Ou para ela.
Poderia escrever parágrafos para
descrever porque digo isso, mas seriam muitos para quem lê e poucos para quem
escreve.
No fundo, eles só diriam isso:
minha mãe me ama, mas não do jeito que nós duas sonhamos.
Cada uma de nós foi criada para
pensar em um futuro. Para desejar alguma coisa. Para sermos felizes dentro de
cenários de felicidade que nos foram apresentados.
Contudo, tudo sempre muito
pequeno para o que somos.
Mas não sabíamos disso. E
pequenas ficamos também. Atarracadas em pequenas caixas de “boa filha”, boa
esposa”, “boa mãe”, “boa aluna”, “boa profissional”.
Pernas sempre cruzadas. Voz
sempre baixa. Postura sempre cordata e apaziguadora. Cabeça abaixada, terço na
mão e desesperadora esperança de que algo, um dia, dará certo.
Minha mãe me ama e eu a amo
também.
A inspiração, todavia, é às
avessas. Não me vejo naquele papel.
E ela sabe disso. Com o pesar de
quem sabe que fez tudo o que fez foi para o Bem.
Sei disso também. Com profunda
vergonha por admitir.
Há algo em que concordamos: além
do amor que sentimos, há também o desejo de ser feliz. Ser sinceramente feliz. Há
pouco tempo percebemos que essa felicidade não viria de nenhum local que
conhecemos. Nem do jeito dela, nem do meu. Nem de qualquer outro jeito que já
nos foi apresentado.
Amo aquela mulher porque ela
lutou mesmo não ganhando tudo pelo que batalhou.
Lutarei por mim, pela minha bandeira
e pelo que descobrirei nos caminhos em que eu for andar. Farei jus a mim, e
isso nos deixará mais satisfeitas - com medo de que esta frase seja pequena
demais para nos definir.
Não foi o amor que sonhamos, mas
é o amor que podemos ter.
(só espero que ele nos mude e que
nós possamos mudá-lo)
Ribeirão Preto, 04 de maio de 2014.
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