4 de mai. de 2014

Fiodor Dostoievski


NÃO HÁ DESCRIÇÕES PARA AMOR

Minha mãe me ama.
Mas não foi o amor que eu sonhei.
Na verdade, não foi a vida que eu sonhei. E nem a vida que ela sonhou para mim. Ou para ela.
Poderia escrever parágrafos para descrever porque digo isso, mas seriam muitos para quem lê e poucos para quem escreve.
No fundo, eles só diriam isso: minha mãe me ama, mas não do jeito que nós duas sonhamos.

Cada uma de nós foi criada para pensar em um futuro. Para desejar alguma coisa. Para sermos felizes dentro de cenários de felicidade que nos foram apresentados.
Contudo, tudo sempre muito pequeno para o que somos.
Mas não sabíamos disso. E pequenas ficamos também. Atarracadas em pequenas caixas de “boa filha”, boa esposa”, “boa mãe”, “boa aluna”, “boa profissional”.
Pernas sempre cruzadas. Voz sempre baixa. Postura sempre cordata e apaziguadora. Cabeça abaixada, terço na mão e desesperadora esperança de que algo, um dia, dará certo.

Minha mãe me ama e eu a amo também.
A inspiração, todavia, é às avessas. Não me vejo naquele papel.
E ela sabe disso. Com o pesar de quem sabe que fez tudo o que fez foi para o Bem.
Sei disso também. Com profunda vergonha por admitir.

Há algo em que concordamos: além do amor que sentimos, há também o desejo de ser feliz. Ser sinceramente feliz. Há pouco tempo percebemos que essa felicidade não viria de nenhum local que conhecemos. Nem do jeito dela, nem do meu. Nem de qualquer outro jeito que já nos foi apresentado.

Amo aquela mulher porque ela lutou mesmo não ganhando tudo pelo que batalhou.
Lutarei por mim, pela minha bandeira e pelo que descobrirei nos caminhos em que eu for andar. Farei jus a mim, e isso nos deixará mais satisfeitas - com medo de que esta frase seja pequena demais para nos definir.

Não foi o amor que sonhamos, mas é o amor que podemos ter.

(só espero que ele nos mude e que nós possamos mudá-lo)


Ribeirão Preto, 04 de maio de 2014.