Meu caro, minha cara.
Caminhei pela grama macia até o topo do campo, com seu aclive suave e um sol e céu límpidos acima de mim.
Na mão, dois buquês.
Ajoelho para deixar o primeiro buquê no campo ensolarado. Acaricio as rosas pensando que eu acariciou suas mãos. Mãos sempre macias, quentes e gordinhas, cheias do afeto que poderia dar.
"Sempre te dei flores vivas porque queria que elas continuassem vivendo e florescendo ao seu lado", como se o ciclo de florescer e fenecer fosse uma exclusividade só das flores, não da planta em si.
Hoje, te dou um buquê de flores mortas, mas lindas, pois a beleza da flor acaba num momento, assim como a sua beleza também se foi.
Depois, me volto para o segundo buquê. São astromélias amarelas.
"Nunca te dei flores. Acho que foi um desperdício de tempo não ter te dado buquês antes. Nem sei ao certo sua cor preferida e eis-me aqui, com flores amarelas".
"Sinto sua falta. Sinto muito a sua falta..."
("por que vocês tinham que levar ao pé da letra a história de que um não podia viver sem o outro?")
Enquanto penso em tudo isso e procuro sublimar a minha saudade escrevendo, um tratorista passa atrás de mim perguntando as horas. "São 10:18h", respondi.
"Obrigado!"
"De nada..."
Isso me faz lembrar que a vida segue, o tempo passa e o campo florido se prepara para receber mais flores mortas.
(...)
Voltando para o carro, escuto as cigarras e vejo flamboyants floridos ao longe, perto de coqueiros sem cocos.
"Vocês também florescerão e fenecerão", digo a elas e às cigarras.
E digo isso a mim mesma, enquanto fecho a porta do carro e ligo o motor para ir embora daqui...
Mococa, 5 de novembro de 2021.
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