16 de jun. de 2019

NÃO SEI COMO NOMEIO ISSO...

Meu caro, minha cara,

Caio Fernando Abreu escreveu um conto belíssimo chamado "Os dragões não conhecem o paraíso".

(Vale a pena ler esse livro)

"Tenho um dragão que mora comigo", ele começa. Sabendo que é uma mentira que conta pra si próprio. Sabendo que nada nesse mundo o faria ficar, ou o atrair a seu apartamento com 100% de chance de dar certo.

Diga-se de passagem:, "os dragões não permanecem".

Ao final, ele arremata: "Que seja doce". Mesmo sabendo que será amargo e depressivo o final. Mesmo sabendo que é um ciclo de expectativa, gozo, desilusão e realidade. Mesmo assim, "que seja doce", ele arremata... Vive-se um dia de cada vez.

Pois bem. Não tenho um dragão. Tenho um kraken.

E... Sim. Ele mora comigo.

Se eu for resumir o que ele é, não teria qualquer dúvida quanto ao que vou dizer agora: pior animus da história.

(Vá estudar o que é animus...)

Não gosta de negociações, tampouco de indiretas ou ambiguidade. Preso, se rebela; solto, sai quebrando tudo. Sobra eu para pegar os cacos, pagar os prejuízos, calçar a cara e pedir "desculpas"...

O pior nessa história é que eu entendo ele. Ele é meu guarda costas, frentes, lados e avessos. É a voz que me diz que comer Mc Donald's é "de boas" porque ele sabe que gordura e carboidratos são gatilhos rápidos para a produção de serotonina...

E quem não curte uma serotonina no globo, né???

Eu tenho esse demônio, esse totem, esse estigma que não sei se pode (ou deve) ser estirpado, exorcizado, trocado...

...Sei que ele quer que a gente fique bem, mas tá difícil...

...Se tento ser fofa e simpática, dizendo "que seja doce", já recebo um "teu cú" em cima... "Não sou dragão, não vou te jogar historinhas!".

Não sei se sou grata por tanta franqueza assim.

Daí eu fico triste, ele se arrepende e me diz "desculpa, criaturinha, não fica assim... come uma batatinha... Eu deixo..."

...Eu só queria poder dizer "que seja doce" em paz, seguir o ciclo em paz, sem ninguém aparecendo com um sunday na minha frente...

Ribeirão Preto, 16 de junho de 2019

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