22 de set. de 2019

A CAIXA

Meu caro, minha cara.

Guardo lembranças de lugares e pessoas. Quando alguém viaja, já saio logo pedindo um imã de geladeira de presente (rsrsrs). Quando viajo, trato de arrumar uma lembrança do local. Quando alguém chega de viagem e me traz um mimo, fico muito feliz.

De todas as coisas que comprei e ganhei em todos esses anos, a mais intrigante é uma caixinha de madeira que ganhei do meu primeiro namorado.

Era meu primeiro ano de faculdade e eu arrumei como namorado O CARA. Todas babavam nele. Ninguém sabia qual era a dele. Ele era aquele galã enigmático, bem ao estilo "Juventude Transviada".

E ele era meu.

Completamente apaixonada, amava tudo nele. Quando ele foi para a cidade dele e me trouxe a caixinha de madeira de presente, fiquei super feliz. Ele disse "achei a sua cara". E era!

O mundo era perfeito.

Até o dia 17 de novembro de 2000.

Ou melhor: a noite de 17 de novembro de 2000.

(Esse é o momento em que eu travo e me arrependo de ter começado esse assunto. Mas tudo que tem um começo merece ter seu desfecho)

Hoje, com a distância do tempo, eu posso eleger esse dia como o pior da minha vida. O mais humilhante. O mais violento. O mais degradante.

Horror travestido de obrigações.

Que não acabaram naquele dia.

Mas, um dia, acabaram.

Queimei fotos, chorei, fiz muita besteira. Muita.

Muita.

Muita mesmo.

Foi isso que me empurrou para a terapia. Estou nela até hoje.

Ainda bem.

Hoje eu posso dizer que lido melhor com os eventos que se passaram comigo. Não só o desse dia, mas também dele.

De todas as coisas sobre essa história que deixei para traz ou destruí, a caixa de madeira foi a única que não tive coragem de mexer. Ela está na minha sala hoje, como um simples objeto de decoração aos olhos de muitos.

Para os meus, é a lembrança de algo que foi bom. Mesmo que, depois, tenha se transformado em uma cicatriz.

Ribeirão Preto, 22 de setembro de 2019.


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