Meu caro, minha cara.
"Respeita a vovó", grita a velha.
Grita para uma criança de seis meses, que grita mais que ela. E grita o dia inteiro. Céus! Como consegue...
"Respeita a vovó", grita a velha.
Assim como grita os cânticos do culto. Porque velha que grita assim não vai na missa. Vai no culto. E grita (não canta) umas três oitavas acima do que o ouvido de gente normal merece ouvir.
E a criança de seis meses grita mais e mais.
"Respeita a vovó", grita a velha.
Tá difícil, vovó, respeitar a velha que grita para o bebê de seis meses. Tá difícil respeitar quem quer por igual quem é diferente. Tá difícil respeitar quem não tem sistema cognitivo suficiente maduro para perceber que um bebê de seis meses não tem um sistema neuro-cognitivo suficientemente maduro para entender o que significa "respeita a vovó".
E, mesmo que tivesse, no auge dos seus seis meses de vida, um bebê assim pararia, olharia e pensaria: "Se é no grito que se pede respeito, então eu tô fazendo é certo. Vai outro aí! AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH".
"Respeita a vovó", grita a velha...
Tá foda ter respeito naquela casa...
Ribeirão Preto, 11 de maio de 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário