Meu caro, minha cara.
Apareceu do nada na minha frente. "Tenho sede". Desço da esteira e ele vai, com copo na mão, até o bebedouro.
Um, dois, sei lá quantos copos depois, ele volta com um copo cheio para mim.
"Vamos dar uma volta hoje?"
Eu disse que sim. O shampoo, a camisola e o jejum intermitente que esperassem: hoje a noite é de chuva.
Pegamos os capacetes e fomos. Eu, sonhando acordada. Ele, vivendo o sonho de metal do Vital. Em comum, amamos a chuva, o vento, o raio e o trovão. Esses deuses antigos que teimam em não serem domesticados pela mão inepta de quem mal vive um século.
Ganhamos a estrada e, com ela, as cenas mais lindas: relâmpagos disfarçados pela chuva distante eram apenas luzes aconchegantes e sedutoras. Caiam no chão, como a chuva. Caiam de um lado ao outro, como o vento.
Com poucos carros e caminhões na estrada, ganhamos velocidade. Pensamos sentir os primeiros respingos da chuva.
E sorrimos dentro de nossos corpos...
A noite continua, assim como os trovões. E lá fomos nós, noite adentro, caçar mais raios pelo céu, como crianças caçando vagalumes no quintal...
Ribeirão Preto, 28 de setembro de 2020.
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