Meu caro, minha cara.
Atlas devorou o mundo, mas não teve estômago para digeri-lo.
Antes, quando o carregava nas costas, poderia arremessa-lo longe quando considerasse que sustentar aquilo era uma perda de tempo sem tamanho.
Só que agora, com o mundo e suas mundices nas tripas, se derrama vegetativo e preguiçoso, achando que o ventre é de aço, assim como eram os seus braços e pernas.
Atlas devorou o mundo pois queria o mundo para si. Mas não há estômago nesse mundo capaz de digerir o que o mundo contém.
Então, Atlas morre aos poucos, sorumbático e ruminante, gemendo pelos braços e pernas que antes tinham serventia, mas não mais.
Condenado pelo Tempo a suportar o globo, condenado por si próprio a não suportar mais nada...
Atlas devorou o mundo. Agora morre aos poucos, atrofiando tudo.
Ribeirão Preto, 05 de janeiro de 2021.
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