29 de dez. de 2021

A MEMÓRIA QUE NÃO SE QUER TER

 Meu caro, minha cara. 


As pernas doem, mas os pés e tornozelos doem mais.

A semana está... "intensa"...

Olho para cada documento e sou (quase) sumária: "vai para o lixo", penso eu. "E quando o advogado me liberar, jogo fora mais outro tanto".

No chão, o que antes era importante agora não é nada além de informação inútil. 

Paro um pouco e leio o que escrevi. Apago a metade. Acho piegas, mesmo que eu me ache no direito a ser piegas.

Paro outro pouco e descanso. Mas logo volto. As mãos coçam para jogar fora mais papel inútil. 

Só que os papéis inúteis estão diminuindo...

Num dos muitos pacotinhos, achei uma 3x4 do Tado de terno branco e gravata borboleta. Gostaria de ter conhecido ele pessoalmente, não apenas da memória de outras pessoas.

Minha avó quase nunca falava dele. Da mesma forma que nunca falou do meu pai quando era criança. 

(significativo uma mãe nunca falar de seu filho quando era criança, não?)

Uma pena. Eu queria saber como meu pai era quando criança.

Mas todos que o conheceram assim já estão mortos.

Todos os que a conheceram quando jovem também já morreram. Quem realmente a conheceu e quem realmente sabe o que aconteceu.

Todos mortos.

Quanto a mim, só lembro de fragmentos, opiniões eviesadas e de muitas lacunas...


Ribeirão Preto, 29 de dezembro de 2021.




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