9 de mar. de 2016

ADOLETÁ

Meu caro, minha cara,

      Uma noite, saindo da fisioterapia, com a cabeça triste e o coração cansado, vi um homem do lado de fora da sala de espera brincando com seu filho.
      O menino não tinha mais do que 5 ou 6 anos, O que me chamou a atenção nessa cena foi a brincadeira entre os dois. Não era brincadeira de luta ou joguinho no celular. Estavam brincando de Adoletá.
      Para quem não conhece, é uma brincadeira de roda que muitos falariam que é "coisa de menina". E não parou por aqui o meu interesse pela cena. Além deles estarem brincando de "brincadeira de menina", os dois estavam gostando! O filho provavelmente aprendeu no colégio com outras crianças e gostou da brincadeira. O pai estava maravilhado com a alegria do filho em poder "ensinar" para ele uma brincadeira "inédita".
      Passei rapidamente pelos dois, pois queria muito ir embora para casa, mas aquela cena ficou comigo (e desconfio que ficará para sempre). E vou dizer o porque.
      A impressão que aquele pai me passou é de que ele não queria ensinar o filho a ser homem, fazendo "coisas de homem", brincando "brincadeiras de homem". A sensação que tive é de que ele queria ensinar o filho a ser feliz. 
      Ao sentir e demonstrar prazer em algo que a cultura geral nos diz que não é "condizente" com nosso gênero, a gente descomplica um pouco a vida. Crianças têm direito de brincar com o que quiserem. Nós, "adultos", também deveríamos usufruir desse direito - mas o tempo passa, a gente cresce e isso não acontece.
      Uma pena, não?
      Imagino quantas pessoas (em várias gerações) não receberam em sua educação essa divisão de "coisas de menino" e "coisas de menina". Eu acho que separar as brincadeiras, as emoções, a postura e a conduta do que um ou outro deve ter nos deixa tão pobres, tão limitados em nossas possibilidades. Como se uma coisa que poderia ser minha me fosse proibida só por causa da minha anatomia. Para mim, essa divisão que tantos acham de "inocente" é a gênese de tantos problemas as relações de poder entre os gêneros.
      Não tenho a pretensão de discorrer mais sobre o tema. Um motivo é que ele é extenso e confesso que não sou uma expert no assunto. O outro (e mais forte) é que queria contar o que vi e falar sobre as impressões que tive: vi uma pessoa incentivando outra a ser feliz, sem amarras, sem filtros. Uma criança exercendo seu direito de ser criança e um adulto exercendo seu dever em garantir, preservar e participar disso tudo.

      Para terminar, deixo aqui o link de alguns vídeos que assisti a pouco. Não falam sobre crianças, mas falam sobre direitos, deveres e empatia. Acho importante a gente ser sempre lembrado do que realmente vale a pena. Pelo menos, eu acho que vale.

https://www.facebook.com/tudosobreminhamae/videos/754864831316518/

https://www.facebook.com/NaoKahlo/videos/572352069605130/

https://www.facebook.com/gobmx/videos/775837832546569/

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