14 de fev. de 2018

MAS O RH DEVERIA... MAS O CANDIDATO DEVERIA...

Meu caro, minha cara,
Há quase um ano tenho sido mais ativa no LinkedIn, lendo matérias, compartilhando assuntos e dando minhas opiniões aqui e ali.
Durante esse tempo, vi aumentar o número de profissionais de diferentes áreas reclamando sobre o RH, principalmente o Recrutamento e Seleção (R&S). Se dizem ofendidos pelo descaso que os RHs demonstram por candidatos não selecionados. Por processos seletivos longos e pouco claros. Pela falta de retorno. Pela falta de feedback. Pelos profissionais de RH pouco preparados. Pela falta de empatia. Pela falta de orientação. Etc.
Estes profissionais têm razão de reclamarem.
Em contrapartida, vejo muitos colegas da área de RH dizendo sobre a falta de tempo e o volume de trabalho (eu sou uma dessas pessoas). Sobre o quanto existem candidatos inconvenientes, que mandam seu currículo duas vezes por semana há 5 meses para vagas que não existem na empresa. Sobre não ter tempo para ler currículos enviados na plataforma Lattes (ou currículos de cinco páginas de uma pessoa com nível de assistente). Sobre não ter tempo de ler, com calma, os currículos que recebem todos os dias. Sobre vagas que são canceladas por um motivo vago. Sobre vagas que são preenchidas por indicações que (todo mundo sabe) geralmente não terão competência alguma para ocupar o cargo. Sobre vagas que "simplesmente" mudam de perfil.
Estes profissionais também têm razão de reclamarem.
Por isso, se alguém estiver disposto a ler este texto até o fim, coloco aqui minhas orientações, de acordo com a minha experiência (se alguém tiver outras ideias ou experiências melhores/mais efetivas, é só falar. O importante é que todo mundo se entenda e se ajude):
CANDIDATOS:
1) Eu sei que você gostaria que o RH da empresa que você mandou currículo te retornasse com dicas de elaboração de CV (caso o seu não esteja 'bom' para 'nossos padrões'), mas isso não vai acontecer. Isso não é papel do R&S, por mais que você queira que seja. Ao invés disso, pegue modelos de elaboração de CVs que estão disponíveis (aos montes) na internet e escreva de acordo com essas dicas. Depois, peça para alguém bem crítico fazer uma 'sessão Advogado do Diabo' com seu CV. Se você se sentir mais confortável que esta pessoa trabalhe com RH, ok, mas o importante é que seja alguém que critique seu CV e mostre como ele pode ser:
  • mais objetivo
  • de fácil leitura e identificação dos seus pontos fortes
  • mais 'limpo' (sem tanta poluição visual)
2) Eu sei que você quer que o RH te dê retorno sobre os processo seletivos que você participou, E VOCÊ ESTÁ COM A RAZÃO, mas entenda que nem sempre o RH consegue dar retorno: seja porque a pessoa está sobrecarregada de trabalho, seja porque não há sistema que faça isso automaticamente, seja porque ela não está nem aí para os candidatos reprovados (vamos ser sinceros, há gente assim SIM!), seja porque o processo está muito longo e ainda não há retorno a ser dado. Seja qual for o motivo para essa falta de retorno, você está no seu direito de questionar a respeito, mas quer uma dica para esses casos? Bola pra frente.
(neste momento, ouço os protestos das pessoas desempregadas, pais/mães de família, que estão passando algum tipo de necessidade e que podem questionar o meu 'bola pra frente'. Sei que a crise está cruel e muitos estão sofrendo, mas essa é a nossa realidade atual. Não é o que queremos, mas é o que temos que lidar)
3) Eu sei que você é um profissional qualificado e que precisa trabalhar, mas com a situação que vivemos hoje, você é UM dos MUITOS profissionais qualificados na sua área que precisam trabalhar. Detalhes contam na hora da entrevista, da dinâmica, do 'sei-lá-o-que' que for parte do processo seletivo. E não há como dizer aqui quais são esses 'detalhes': isso vai além do candidato, pois tem a ver com o profissional que está cuidando do processo, do que a empresa prioriza, do que o dono da vaga prioriza (e por aí vai).
4) Eu sei que você já participou de vários processos e está cansad@ de receber tantos NÃOs. Então, eu proponho uma atividade: faça uma 'sessão Advogado do Diabo' em sua carreira, em sua postura nos processos seletivos, na forma como busca as oportunidades de trabalho. Aprendi uma coisa tempos atrás sobre uma teoria: a Teoria do 1/3. Nela, a responsabilidade de determinada situação é analisada em três partes diferentes. Essa proposta ajuda a delimitar o que é responsabilidade do OUTRO e o que está sob SUA responsabilidade. No caso dos processos seletivos, 1/3 da culpa é da situação atual, 1/3 é da forma como o processo seletivo é/foi conduzido e 1/3 é de responsabilidade do candidato. Mesmo em crise, há pessoas contratando e sendo contratadas, então não podemos jogar TODA a culpa sobre a crise. Cada processo seletivo é diferente um do outro, e eles podem ser bem ou mau conduzidos, ou então o jeito da empresa é um e o seu é outro. Em todo caso, você não tem controle sobre isso, então a responsabilidade neste quesito é de quem contrata. E a sua responsabilidade? Vamos a elas:
  • a forma como construiu sua carreira até agora te torna um profissional desejado?
  • a forma de construir seu currículo valoriza a identificação de seus pontos fortes por quem vai recebê-lo?
  • a forma como você se apresentou e se portou na entrevista e/ou dinâmica está alinhada ao 'jeito' da empresa? (para descobrir isso, entre no site da empresa antes e veja missão/visão/valores. Isso ajuda)
Analisar as coisas desta forma ajuda no direcionamento das ações de correção que você precisa tomar a respeito (AJUDA, mas não soluciona)
5) Eu sei que você quer algo para sua carreira, mas nem sempre o caminho para chegar até ela é direto. Eu já vendi cartela do Bingão de Matão (quem é do interior de São Paulo vai saber o que é), já trabalhei em banco, já tive que atuar como secretária e saco de pancada de mais de um chefe. Tudo isso aconteceu enquanto eu queria chegar na área que estou hoje. Isso tudo serviu para dizer que 'eu venci'? Nem de longe! Ainda não fiz quase nada do que gostaria de fazer na minha área de atuação, mas como sou apaixonada por ela, vou seguir descobrindo. Na verdade, isso serviu para dizer que toda carreira é uma trilha, e não um trilho: a gente sabe o que quer e onde quer chegar, mas o caminho não é reto na maioria das vezes.
Por isso, entenda que às vezes você terá que mudar de rota.
RH:
1) Eu sei que é difícil dar retorno para tanta gente. Afinal, é muita gente mandando CVs, em entrevistas, perguntando sobre vagas, etc. O volume de trabalho é alto e não a equipe onde estamos nem sempre é grande. Como sugestão para sair dessa, crie uma rotina com os candidatos. No meu último emprego, eu já deixava claro: 'se até esta 6ª feira eu não entrar em contato contigo, é porque a vaga não deu certo para você'. É claro que sempre havia aquele candidato que ligava na 5ª, na 6ª, na 2ª feira seguinte para perguntar sobre a vaga. Nesses casos, eu apenas repetia do que eu combinava com eles na entrevista: 'conforme combinado na entrevista, se eu não entrasse em contato contigo até a data X, então significaria que você não havia sido o candidato selecionado'.
(neste novo momento, escuto novos protestos de pessoas dizendo sobre insensibilidade e falta de empatia, mas se coloquem no meu lugar: vejo centenas de currículos, faço dezenas de vagas, FORA as outras responsabilidades. Quando o volume é grande, este é um jeito de dar um parâmetro para os candidatos sobre ser aceito ou não sobre a vaga. Não é o ideal, mas é o possível).
Atualmente, dou retorno para todos os candidatos que eu entrevisto. Por e-mail. E só. Aqueles que eu não chamei para a entrevista, eu não dou retorno. O volume é alto e não dou conta.
2) Eu sei que é difícil dar negativa para um candidato bom, mas que não será contratado. Seja porque há outro melhor, há apenas uma vaga ou ela foi cancelada ou então porque temos que atur... quer dizer, aprovar uma indicação, continua sendo difícil. Mas é necessário. É melhor falar de uma vez e torcer que o melhor aconteça do que protelar.
3) Eu sei que dar feedback para um candidato quando ele pede nem sempre é fácil. Como falar para ele que, apesar de ele/a ser até melhor que os outros, outro foi escolhido? Ou então como falar para ele/a que sua postura foi arrogante durante a entrevista, a forma como se portou foi infantil ou que ele não foi escolhido porque contou algo extremamente inapropriado de um trabalho passado (exemplo: revelar que 'pegou' um desenho industrial de um concorrente, como se fosse algo normal - acreditem: já aconteceu comigo). O jeito é apontar o que a pessoa pode fazer para melhorar sua apresentação para oportunidades futuras (exceto para a pessoa que pegou o projeto 'emprestado'), mas dentro do que você percebeu que ela 'aguenta' (sem sincericídio).
E, por favor, não justifique que ele/a não foi selecionado porque 'Deus tem um plano' (já vi gente de RH fazer isso). Você não sabe se a pessoa é cristão, budista, satanista, ateia, judia, muçulmana ou coisa que o valha. Não vamos misturar estações...
4) Eu sei que é difícil mostrar o valor do RH para 'os chefões', mas enquanto adotarmos esta postura de 'oh! sou apenas do RH', seremos sempre 'a mocinha do RH'. Quando trabalhei com recolocação profissional, meu trabalho era achar vagas e 'cavar' entrevistas para meus clientes. Eu tinha que saber MUITO BEM o que eles faziam, para conseguir 'vender meu peixe' para os donos das vagas. Para tanto, eu tinha que estudar suas carreiras e o que cada área fazia. Aprendi muito nessa época. Muitas vezes (muitas vezes mesmo) eu esbarrava na 'mocinha do RH'. Você sabe como ela é: trabalha no RH, mas só faz pegar os currículos que recebe e os entrega ao gestor da vaga, sem nenhum filtro, dizendo que 'ele é que pode avaliar tecnicamente um currículo se é bom ou não'. Ela/e alega que não sabe a respeito do que a vaga vai fazer porque ninguém a ensina. Mas já foi atrás pra saber de fato?
Foi mesmo?
Uma ex-orientadora de estágio minha me disse uma vez: 'estude, corra atrás, e se alguém quiser passar por cima de você, bata o pi*** na mesa e dê limites' (sim, eu quase usei um palavrão. Quase. Mas era o que ela falava). Por isso, se quiser deixar de ser a 'mocinha do RH', estude seus clientes internos, o que eles fazem e precisam e, caso algum deles queira te por para escanteio, bata a MÃO* na mesa e coloque limites.
* figurativamente falando, ok?
E combine algum tipo de retorno para os candidatos, por favor.

Ao final de tudo, uma coisa é certa: haverão candidatos bons/maus/sem-noção e haverão profissionais de RH bons/maus/sem-noção, da mesma forma que existe a mesma medida para médicos, advogados, arquitetos, economistas, etc. Discutir quem está ou não com a razão é o mesmo que discutir o sexo dos anjos: só serve para perder tempo e deixar todo mundo com raiva.
Aposto que todos os que estão aqui no LinkedIn querem a mesma coisa: que todos fiquem bem, trabalhando com o que gostam, realizando seus sonhos pessoais e profissionais e ajudando pessoas, empresas e comunidades a serem melhores. Qualquer coisa diferente disso é inútil.
Portanto, que tal baixar a guarda e ver o que, dentro do seu 1/3 de responsabilidade, cada um pode fazer para que as coisas melhores? Dá trabalho, mas dará mais certo do que continuar fazendo o que já se está fazendo (digo isso para RH e candidatos).
Boa sorte e bom próximo passo a todos!

Ribeirão Preto, 24 de janeiro de 2018

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