14 de abr. de 2019

PRETO AZUL ROSA VERDE BRANCO

Meu caro, minha cara.

Faz anos que guardo essa imagem.

Estava em uma excursão do colégio (não me perguntem qual a série e qual o destino, pois não me lembro) e fomos para São Paulo.

Quando chegamos na cidade, passamos por todas as ruas, avenidas e largos famosos, mas que eu, por ignorância, desconheço até hoje.

Olhava o trânsito, os prédios, as estátuas, fazendo imagens mentais num tempo que não havia câmeras digitais e celulares poderosos. Imagens guardadas na memória como flores colhidas que um dia morrem.

Olho para a direita e, entre um prédio de kitnets e outro, tenho uma revelação.

Uma casa. Muito antiga. Cuja idade é denunciada pelos adornos em rococó de suas laterais, portas e janelas, pelo pretume de suas paredes e pelas plantas nascidas em suas rachaduras.

Uma casa com portas duplas e sem grades nas janelas.

Ao lado, um pátio, transformado em jardim de samambaias apoiadas numa parede rosa choque.

Quem as alimentava era uma velha preta, de vestido azul claro, com um lenço branco na cabeça. Armada de um regador e chinelos, ia regando as samambaias como se isso, naquela cidade, fosse normal.

Essa cena se passou muito rápido: a velha preta, da casa preta, saindo para regar as samambaias verdes penduradas num paredão rosa, vestida de azul e lenço branco, carregando água e histórias em sua memória de flores que um dia ficarão murchas e morrerão.

O ônibus não parou para isso. Ninguém prestou atenção. Ele continuou a levar todos a seu destino esquecível. Eu continuo a levar a preta velha comigo.

Ribeirão preto, 14 de abril de 2019



Nenhum comentário:

Postar um comentário