15 de jul. de 2019

AI DE MIM...

Meu caro, minha cara,

Hoje a noite, enquanto esperava o horário para começar minha terapia, eu peguei um livro na recepção com sonetos do Pablo Neruda.

Abri o livro ao léu e li um soneto.

Confesso que não consegui interpretar tudo o que li, mas eu gostei do poema. Era bonito, envolvente, cálido.

Quando falei a respeito disso para minha terapeuta, ela citou Clarisse Lispector: "Achar bonito também é uma forma de entender".

No momento em que disse isso, lembrei de um filme chamado "Tempos de paz". Quase no final do filme há um monólogo, retirado de uma peça chamada "A Vida É Sonho", aonde o personagem principal, Segismundo, compara sua vida com a do pássaro, fera, peixe e riacho; todos seres mais singelos e simplórios que o próprio homem, mas mais livres que ele próprio.

Um monólogo que me toca fundo toda vez que o leio...

Ele é um discurso de comparação e tristeza, feito pelo filho de um rei medieval, replicado por um ator judeu fugindo do nazismo, achacado por um torturador brasileiro que não entendeu nada do que se tratava seu discurso, mas se emocionou com as palavras e a tristeza do outro.

Mas este não é o único monólogo que me chama a atenção.

Shylock, em muitos momentos, me representou. Com seu discurso de comparação, ódio e vingança, me fez me sentir confortável em saber que alguém - mesmo que na dramaturgia - sabia que não havia diferença entre eu e o outro e que, por isso, poderia devolver a paga maldita que recebi um dia sem pedir. Direitos iguais, consequências iguais.

"Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito".

Olho por olho, dente por dente.

Ao terminar de contar sobre os monólogos, percebi que trago comigo dois discursos belíssimos, mas com sentimentos que me corroem por dentro.

Ao me deparar com Neruda e seus sonetos quentes, amorosos e sinceros, do que me lembro? Tristeza e raiva...

Ai de mim, ai, pobre de mim...

Ribeirão Preto, 15 de julho de 2019.


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