14 de jul. de 2019

COMPLEXO COMPLEXO

Meu caro, minha cara,

Quando estava na faculdade de psicologia, um dos mistérios mais aguardados para serem desvendados era o famoso complexo de Édipo.

Em qualquer lugar que se lia a respeito, a resposta era uma só: Édipo matou o pai para ficar com a mãe. A interpretação era quase tão literal quanto: o filho mata o pai (figura que representa autoridade) para ficar com a mãe (figura que representa o prazer).

No primeiro ano, esse assunto foi tratado de uma forma que, confesso, não achei muito inteligente por parte do professor que dava a matéria. Digo isso porquê o "abençoado" do professor "confirmou" que o tal complexo era isso daí mesmo, filho querendo matar o pai para ficar com a mãe, tanto no aspecto figurativo quanto no literal (em alguns casos).

Agora, pense comigo: um bando de cabeças de bagre que mal saíram da adolescência estão na frente de um cara que representa uma figura de autoridade ouvindo dele que o complexo de Édipo não é uma metáfora.

Dá nó em muito cérebro.

Fora a culpa que começa a ferver na cabeça.

Cinco anos se passaram e nada de alguém querer explicar o que era essa joça. Parecia que, cada vez mais, o barato dos professores era colocar teorias e mais teorias complicadas sobre o assunto, tornando as interpretações algo tão truncado e místico quanto desenhar um mapa astral.

Entretanto, no meio do último ano, uma professora baixotinha e de voz fina perguntou para toda uma classe se o conceito do complexo de Édipo estava claro para todo mundo.

O silêncio se instaurou na Terra naquele momento.

Daí, ela explicou: complexo de Édipo é o termo dado ao momento em que a criança percebe que, para viver em sociedade, ela não pode sair fazendo tudo o que dá na telha. Ela tem abrir mão de algumas coisas se quiser outras.

Em suma, ela tem que escolher o que quer para si. No processo, ela também escolhe o que quer rejeitar.

(Nem sempre é o que quer rejeitar, mas o que precisa rejeitar... E isso dói)

Por isso que muita gente gosta de dizer que "cada escolha é uma renúncia" ou então que "cada SIM esconde infinitos NÃOS".

Mas por que eu trouxe esse assunto?

Talvez porque eu esteja num momento em que eu tenha que escolher o presente ao invés de universos paralelos.

Talvez eu tenha que escolher manter o que eu tenho. Ou mudar tudo drasticamente.

Talvez eu não esteja com medo de escolher algo que me faça feliz, pois talvez eu ainda nem tenha pensado o que me faz feliz de fato.

E essa é a parte mais triste de tudo...

Ribeirão Preto, 14 de julho de 2019

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