Meu caro, minha cara,
Lembro de um livro que eu li, já faz um tempo, que conta a história de um cara que tinha o olfato mais apurado que já existiu. entretanto, ele próprio não tinha cheiro. O fato o tornou desesperado: era como se não existisse. então, ele foi atrás do "perfume da existência" (ou do "amor", não me lembro muito bem). Para isso, ele precisou coletar o odor de outras pessoas - mulheres, no caso. Pena que, para isso, ele as matava.
O livro se transformou em filme (com o mesmo nome) e, para mim, o filme foi uma droga por um único detalhe: mudaram o mote para os assassinatos que ele cometia.
Mas, desde que o li, sempre me lembro dele em momentos aleatórios. Pelo menos, ultimamente tenho me lembrado muito dele.
Tudo porque perdi o meu perfume.
A empresa que o fabricava está com falta da matéria prima principal. Caso volte a produzi-lo, será ó daqui uns anos, quando o manejo da seiva voltar a ser sustentável.
Enquanto isso, procurei substitutos e quase achei algo de que gostasse.
Mas ainda não é o meu cheiro.
Ontem à noite meu marido me apresentou outro perfume. Era bom, muito bom.
...mas ainda não é o meu cheiro...
Assim como o rapaz do livro, eu busco por essa existência que, para ele, era o tal perfume. Sem ele, o rapaz apenas existia e ocupava espaço. Quando ia embora de algum lugar, o lugar sumia. Tragicamente deixava de existir.
Dizem que a memória olfativa é a memória mais primitiva que temos.
Concordo.
Como mostrado no livro, não ter algo para se deixar para trás (como um perfume) é não ter algo para se lembrar. É não ter vínculos. E não nos dedicamos ao que não estamos vinculados.
É muito ruim a sensação de se sentir apenas como matéria...
Ribeirão Preto, 03 de julho de 2019
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