20 de ago. de 2019

VENTO SUL

Meu caro, minha cara,

"Olá, minha mãe. Tudo bem? Estou aqui".

Essas foram as minhas primeiras palavras quando botei meus pés na água e os afundei um pouco na areia. Água gelada, indo e vindo contra meus tornozelos.

Quanta saudade estava guardada nesse meu peito e eu nem sabia o quanto...

(...)

Nasci numa ilha em 1981 e nunca prestei atenção nisso. Ao contrário de muitos e muitas, não gostava de ficar ao sol rolando como um bife empanado, me bronzeando. Sempre fui branquinha, sempre gostei de ser branquinha.

Mas o mar estava ali e ele não serve apenas para nadar. Gostava de olhar para ele e das caminhadas que minha família e eu fazíamos no calçadão nessa época. Nessa época, minha família era bem maior, pois haviam tios, tias, primos e primas, além de vó, pai, mãe e irmão.

Há também um grande benefício de se morar perto do mar: todo réveillon pulávamos sete ondas e jogávamos uma rosa branca para Iemanjá. Essa mãe sempre recebia com carinho tudo o que lhe dava.

Por conta de várias decisões que não tomei, fomos embora para o interior. No começo, gostei, pois pensei que teríamos um novo começo em um novo lugar. Ao sair da ilha, pensava que deixaria para trás a alergia e o inferno dos invasores (vulgo turistas). Deixaria a escola do meu irmão e todas as pessoas mesquinhas que encontrei lá.

Poderia seguir.

E segui.

Não o caminho que eu queria, mas o caminho que deu.

Mudei de cidade mais quatro vezes. Na atual, estou há 11 anos. Nela eu finquei minha carreira e mudei meu estado civil. Encontrei todo tipo de gente, como é de se esperar em cada local em que se "escolhe" para si.

Finalmente de férias, viemos para o Sul, para outra ilha. Indo na contramão do clima, viemos para cá no inverno e fomos apresentados ao Vento Sul. Ele paralisa meu rosto e chicoteia meus cabelos até ficarem embaraçados. Ele me abraça e me força a andar com mais firmeza. Meu marido não gosta dele. Eu o amei logo na primeira lufada.

Apenas um dia incrível de sol bastou para irmos na praia. Não para ficar empanando na areia, mas para matar as saudades. "Oi mãe, senti sua falta", eu dizia. Repito isso com lágrimas nos olhos, com ela na minha frente em plena maré alta, enquanto estou sentada na orla escrevendo isso.

Sinto falta da água, do sal, da areia, do vento.

Sinto saudades dessa casa sem raízes.

Estou em uma terra onde falta tudo isso...

Florianópolis, 20 de agosto de 2019.



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