5 de out. de 2019

LEVE-ME, ORFEU...

Meu caro, minha cara.

Adoro mitologia, lendas e contos de fadas.

Não porque eles sejam apenas fantasia.

Mas porque são meios de falar coisas que, de outra forma, não poderiam ser ditas.

Hoje, lembrei de Orfeu.

Participante ativo dos Argonautas, Orfeu possuía uma harpa mágica que, quando tocada, acalmava as feras e atraia os pássaros.

Salvou muitos companheiros com a doçura de suas canções.

Um dia, conheceu a ninfa Eurídice e se apaixonou. E ela por ele.

Se casaram e eram felizes, mas outro homem desejou Eurídice e a quis para si. Eurídice fugiu, mas na fuga foi atacada por uma cobra e morreu.

Foi levada a Hades...

Orfeu se desesperou. A amava. A queria. Precisava resgatá-la.

Conseguiu convencer Caronte. Conseguiu adormecer Cérbero. Fez um acordo com o Deus dos Mortos: Eurídice poderia voltar aos vivos, desde que eles escalassem para fora de lá juntos, ele na frente, ela atrás. Mas ele não poderia voltar seu rosto para ela até que ela estivesse embebida pela luz do sol.

Voltaram. Ele com o coração cheio de esperança. Ela atrás.

Ele olhando a sombra dela. Ela atrás.

Ele sonhando com o futuro juntos. Ela atrás.

Porém Orfeu era apenas um homem... E teve medo de ter sido enganado...

Voltou seu rosto para trás, apenas para ver, por um momento, Eurídice se transformando em fantasma, arrastada de volta ao inferno por Perséfone, estendendo seus braços de fumaça para o marido, chamando por seu nome com sua voz imaterial...

Foi-se... O acordo fora desfeito, maculado por sua falta de fé.

(...)

Somos feitos de sangue, ossos e caos...

Ribeirão Preto, 5 de outubro de 2019.


Nenhum comentário:

Postar um comentário