3 de nov. de 2019

JIPINHO VERMELHO

Meu caro, minha cara.

Quando era criança, eu estudava de manhã e ia no Sesc à tarde para as aulas de dança.

Adorava dançar.

Ainda mais sabendo que, ao final do ano, iríamos nos apresentar no teatro do Sesc. As apresentações sempre eram relacionadas a uma história.

Uma tarde, enquanto minha avó me levava ao Sesc à pé, vimos um homem batendo em uma mulher no meio da calçada. Faltava só mais aquela quadra para chegarmos ao Sesc, uma quadra imensa, que dava as costas para um terreno do INSS e de frente a vários campos de futebol de várzea. Além dos campos, os predinhos do BNH.

O cara batia na mulher e minha vó me puxou pelo braço para andarmos mais rápido.

Foi quando apareceu o playboyzinho no jipinho vermelho: ele saiu do carro empunhando uma pistola preta, automática, e mandou o cara parar de bater na mulher naquela hora.

Ele tinha cabelo loiro, um pouco comprido, magrelo, camiseta branca, bermuda jeans e tênis.

E óculos escuros.

Eu queria ver o que iria dar tudo aquilo.

Minha avó quase me arrastou pelo chão, aterrorizada com a cena.

Nunca mais vi coisa semelhante.

(...)

Nosso corpo conta muitas histórias.

Pernas, braços, punhos, dedos, ombros... Seja para dançar ou bater em alguém, nosso corpo conta muitas histórias...

Ribeirão Preto, 03 de novembro de 2019.




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