25 de nov. de 2019

PERDÃO. PERDOO. PERDOAR.

(parte 1)

Meu caro, minha cara.

A primeira vez que vi uma foto da minha mãe grávida foi a muito tempo. Ainda morávamos no apartamento da Ponta da Praia, em frente ao quartel.

Na foto, minha mãe estava vestindo um macacão vermelho, sem mangas. Estava sentada na cama, encostada na cabeceira, com cabelo curto, óculos e pernas cruzadas sob a barriga enorme. Fazia uma roupinha para meu irmão, seu primeiro filho.

Lembro que ela contou que, quando estava já em estado avançado da gestação, ela tropeçou num tapete que estava um pouco levantado e, para não cair sobre a barriga, jogou todo o peso do corpo sobre o joelho. Desde então, o joelho ficou zuado e ele puxou o bonde de todas as cirurgias ligadas à parte ortopédica que ela teve que fazer desde então.

Muito tempo depois ela me contou que foi difícil para ela ter dois filhos longe da mãe, pois minha avó (mãe dela) morava em Coqueiros ainda e não tinha como ir até ela. Não sei o porque desse "não tinha como", mas isso era entre elas.

Mais difícil ainda era não ter o apoio da mãe e viver com a hostilidade da sogra (mãe do meu pai), sempre presente, morando na mesma casa, dando pitacos e ordens, subjulgando a nora, moça do interior acoçada por uma postura arrogante e imperiosa de uma mãe solteira.

(...)

Sei que ela quis me proteger de coisas assim: a falta de estudo que te torna dependente de alguém; a falta de capacidade técnica e intelectual que te deixa anos luz atrás no mercado de trabalho; a influência da péssima história de vida da sogra; a "salvação" da minha "alma imortal". Sei porque ela fez tudo o que fez.

Devo perdão a ela por tudo o que fiz, pensei e falei? Até tenho.

Mas sei que não vai dar conta de ouvir o porque de tantos pedidos de perdão.

Até porque, a conhecendo como eu a conheço, ela não entenderá que o que fez me rasgou em mil pedaços...

Ribeirão Preto, 25 de novembro de 2019.

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