26 de nov. de 2019

PERDÃO. PERDOO. PERDOAR.

(parte 2)

Meu caro, minha cara.

Foi por causa daquela fita K7 que eu descobri tudo. Nela havia a história do meu bisavô (avô do meu pai) narrada por um homem de voz imponente, acompanhada de música suave e sonoplastia de águas rolando.

Meu bisavô era barqueiro no Amazonas e minha bisa sempre o acompanhava. Por isso que minha vó e seus irmãos eram criados pela tata.

Quando meu pai pôs a fita no toca fita, ouvi o nome do meu avô. E percebi que ele tinha o nome do meu bisavô. Mas, ao final, não tinha "Neto". Tinha "Filho".

Como que alguém havia cometido aquele engano?

Perguntei a ele.

Uma, duas, sei lá quantas vezes.

Até que ele gritou comigo.

"Porque sua vó não casou!"

Ele voltou o rosto para o toca fita que ainda funcionava.

Eu fiquei parada na porta do quarto, em choque.

Ele nunca mais falou nada a respeito.

A minha mãe contou que ele também não conversa isso com ela.

Fiz as contas e soube que minha vó teve meu pai aos 25 anos de idade.

Quando dei meu primeiro beijo (já contei sobre isso antes), ele ficou sabendo e quase me deu uma surra. Sorte que consegui me trancar no banheiro antes.

(...)

O tempo passou e eu fiz 26 anos. Estava formada na faculdade, trabalhando e enfurnada na casa dos meus pais, na mesma cidade em que meus pais escolheram se enterrar.

Eles estavam felizes. Afinal, nada rejuvelhece mais um pai e uma mãe do que subjulgar um filho adulto.

Naquele aniversário a relação do meu pai comigo mudou. Ele estava feliz. Muito feliz.

Tenho para mim que tanta felicidade era pelo fato de eu ter chegado aos 26 sem filho algum.

Acho que nunca haverá filho algum...

Ribeirão Preto, 26 de novembro de 2019.

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