18 de fev. de 2020

AGORA VOCÊ NÃO VÊ

Meu caro, minha cara.

No dia em que eu fiz a cirurgia do meu joelho, minha avó faleceu.

A mãe do meu pai.

Ela não estava bem de saúde, mas ainda se mantinha firme.

Por conta da atenção que meus pais teriam que dar para mim no pós operatório, ficou combinado que ela ficaria internada na Santa Casa para monitoramento. Ela teve, anos atrás,um pequeno infarto.

Desde então, seu coração não funcionava muito bem.

Uma hora antes de entrar no centro cirúrgico, o hospital ligou para meu pai avisando que minha avó havia morrido. Quando perguntamos o que tinha acontecido, eles disseram que ela apenas dormiu e morreu.

Na época eu estava com poucos meses de namoro e meu então namorado (agora, meu marido), ligou para perguntar como eu estava. Eu disse que estava bem, ansiosa para que tudo acabasse logo, e avisei que minha avó havia morrido.

Ele ficou em choque.

E eu disse: "Fica tranquilo, tá tudo bem".

Ele ficou mais em choque ainda.

Para ele (e eu acho que para boa parte da população da Terra), a minha resposta foi muito fria.

Só que eu sei que não foi.

Porque eu conheço a história dela. Eu conheço a história da minha família.

Até onde pude ir, eu conheço a minha história.

Sei o papel de cada um nela.

E digo com muita clareza que falar "fica tranquilo, tá tudo bem" para ele, naquele momento, era a justa medida do que a situação merecia.

Sem raiva, desprezo, ódio, rancor, lamento, saudade, culpa, alegria, alívio, remorso...

Ela apenas se foi...

...e quanto a isso, tá tudo bem...

Ribeirão Preto, 18 de fevereiro de 2020.


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