Meu caro, minha cara.
Tomei banho, vesti uma calça, a blusa que ele não gosta, chinelos, e saí.
“Vou sozinha”, disse.
Não queria companhia. Ou testemunhas.
Não queria um par de olhos me medindo, medindo a altura do som do meu carro, os ponteiros do velocímetro ou do contagiro.
Adoro dirigir à noite. Se for com o vidro aberto e um rock nas alturas, melhor ainda...
Pego a Anhanguera e desço. Não muito. Corto a cidade fofa e pego outra estrada. Ela é curta porque eu corro muito. Foi correndo que eu fiz a primeira curva brava. Foi correndo que eu pisei no freio e correndo voltei ao acelerador.
Quando não vinha ninguém, desligava os faróis. Na noite preta do asfalto solitário, a estrela mais brilhante brilhava.
Foi quase no fim do caminho que tudo rosnou. O carro e eu. A garganta e a boca explodiram junto com a cabeça, num típico grito de mulherzinha indefesa de filme de terror B.
Agora, o motor esfria, a garganta arranha e eu, espero o lanche ficar pronto.
Na rua iluminada por refletores de halogênio, a estrela mais brilhante brilha longe dos meus olhos.
Ribeirão Preto, 23 de abril de 2020.
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