Meu caro, minha cara.
Meu pai conta que o Chico Anísio escreveu um conto sobre uma bichinha que vai a um baile de fantasias vestido de fada e que pega um táxi para ir até lá.
Durante todo o trajeto, taxista e passageiro não se entendem e, chegando ao destino, a "fadinha" toca sua varinha na testa do taxista e diz as seguintes palavras mágicas:
"Vire bosta!"
(...)
Hoje, em plena segunda feira de manhã, desempregada, com a casa precisando de uma pequena faxina, eu acordo já esquadrinhando tudo o que eu preciso fazer para deixar as coisas em ordem.
Mas daí me chega o Juvenal, sentado no meio da cozinha, enquanto eu faço café, e me pede massagem.
"Humana! Esfrega teus pés nas minhas costas!"
E eu esfrego.
Vou arrumar a cama, conforme meu cronograma mental, e lá se vai novamente Juvenal, pulando sobre ela e pedindo atenção.
"Humana! Brinca comigo! Deixa eu morder sua mão!"
E lá vou eu, pegar a varinha dele, carinhosamente apelidada de "vire-bosta", porque quando a pegamos, o tempo dos humanos vira bosta e começa o tempo do gato.
E o tempo do gato não admite cronogramas, tristezas, apreensões com o futuro ou arrependimentos do passado.
O tempo do gato só tem uma coisa: um gato querendo ser gato.
E o resto desaparece...
Ribeirão Preto, 29 de junho de 2020.
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