12 de mar. de 2021

A LONGA NOITE...

 Meu caro, minha cara.


Foi com ar de graça, com tom jocoso, que eu falei para minha mãe: "Eita! Deu positivo!".


Ela, deitada na maca dentro do quarto a uns 4 metros de distância de mim, murchou na hora.


Naquele momento eu não sabia, mas ela perdeu a guerra alí.


(...)


Quem me conhece intimamente sabe o que tínhamos. Não era uma relação ideal. Dava raiva, medo, culpa. Alí no fundo dava tristeza e amor e um "saudades do que a gente ainda não viveu". Não era perfeito. Nada era perfeito. Mas era o que tínhamos.


Daquele momento da notícia até hoje pela manhã, a queda foi muito brusca. Foram experiências violentas, amedrontadoras. Tristes. Muito tristes...


Ao me despedir dela no hospital, procurei ser otimista: "Percebi que você tomou esse resultado como uma sentença, não como um estado. Não se preocupem com a gente. Se preocupe em sair daqui".


Esqueci de falar "sair daqui com vida".


Cheguei em casa e dormi. Acordei com o telefonema da assistente social pedindo que eu fosse ao hospital. "Quando assistente social liga para parente avisando que médico quer conversar, não é boa coisa", falei para meu marido.


E não era. Depois de duas paradas cardíacas, ela veio a falecer.


Ela desistiu.


Que ela esteja no céu que ela tanto acreditou, ao lado do Deus que ela tanto chamou em oração.


Para mim... Agora ela dorme um sono sem frio, sem dor, sem acompanhante.


Agora ela dorme. Agora, ela dorme...


Ribeirão Preto, 12 de março de 2021.




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