14 de set. de 2019

PERFIL DEMOGRÁFICO

Meu caro, minha cara.

Quando estava fazendo minha inscrição para os vestibulares, eu precisei preencher algumas fichas.

(Não sei se agora o preenchimento é online, mas na minha época era em papel)

Foi nessa época que eu decidi pela Psicologia.

Hoje eu digo que foi um erro enorme do ponto de vista de carreira. Mas que, com a história que eu tenho e com as coisas que eu percebo atualmente, foi a decisão mais sensata que eu poderia tomar naquela época.

(Mas para minha carreira foi uma bosta)

Preenchi as fichas no próprio cursinho e entreguei na secretaria. Além das informações de contato e do curso de interesse, havia uma parte do questionário dedicada ao perfil demográfico do inscrito.

Entre outras perguntas havia aquela sobre religião. "Qual a sua religião?", seguido de vários quadradinhos com opções.

Eu marquei "nenhuma".

Essa foi a primeira vez que eu admiti isso.

Nascida e criada dentro de uma família católica, filha de uma mãe ultra católica que me consagrou a uma santa criança e virgem, eu fui batizada e crismada, convidada para ser catequista, participante de grupos de jovens, com direito a retiros, corais e os cambáu.

Mas algo estava errado.

Quando disse a meus pais que eu já tinha feito a inscrição no vestibular, sem a "ajuda" (na realidade, a tutela) deles, quiseram saber tudo o que eu respondi. Quando disse que na parte da "religião" eu coloque "nenhuma", percebi que Satã baixou lá em casa, porque eu nunca vi meus pais tão bravos.

(Mentira. Vi sim. Milhares de vezes. Mas foi jeito de falar)

Naquela época eu ainda dava respostas francas e sinceras a tudo que perguntavam. Mesmo sabendo que iria me foder com isso.

(Agradeço ao cosmos por não estar mais naquela época)

Entrei na faculdade, estudei religiões, estudei um monte de coisas, pensei que fosse atéia, mudei de ideia e voltei para a missa e desisti de tudo quando, numa missa de ano novo, comecei a chorar ao passar pelas portas da igreja.

Um choro de desespero, asco, medo, nojo, raiva.

Aquilo não era para mim.

Meus pais haviam me obrigado a ir com eles nessa ocasião, mas viram a minha reação, me viram segurando tudo aquilo dentro de mim... Acho que minha revolta era tão nítida que eles se espantaram. Daquele dia em diante nunca mais me obrigaram a ir numa missa. Sempre me perguntavam antes se eu queria ir ou não.

Depois de alguns anos, nem perguntar eles perguntam mais. Já sabem que a resposta é "não".

Três letrinhas abençoadas, que me ajudam a criar limites e me dão espaço para pensar (por enquanto) e fazer (daqui a pouco) o que eu realmente quero da minha vida.

Quem diria que um simples "x" desencadearia tanta coisa?

Ribeirão Preto, 14 de setembro de 2019.


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