9 de mar. de 2020

SOCA NO ©*

Meu caro, minha cara.

(Já adianto que não há nada de erótico aqui)

Anos atrás, quando estava no emprego dos sonhos e dando tudo de mim, participei da comissão que organizaria a festa de fim de ano da empresa.

Fiquei cuidando dos sorvetes.

A festa era enorme: literalmente, milhares de pessoas (entre colaboradores e familiares) estavam presentes. Comida e bebida à vontade, muita música e sorteio de prêmios.

O tipo de coisa que dá trabalho, mas é legal de ver quando finalmente acontece.

Ao final da festa, fui junto ao fornecedor dos sorvetes para ver quantos foram consumidos; daí gerariam a nota fiscal e o boleto para pagarmos.

Foi quando um dos trainees chegou.

Bêbado.

Ou quase lá.

Ele pegou um dos vales que já haviam sido contados e jogou em cima da mesa onde estávamos, gritando "me dá um sorvete".

Olhei pra ele e disse que não.

Com raiva, ele berrou: "ah é? Então soca esse sorvete no cú!"

O amigo dele, também trainee, pegou o rapaz e o afastou da mesa, pedindo desculpas em nome do amigo.

Fiquei... Perplexa. Me senti injustiçada. Eu estava fazendo tudo certo ainda sou xingada???

Não era por causa do sorvete em si. Ele valia uns... R$0,80? Não era isso que iria deixar a empresa mais rica ou pobre.

Mas... Pensa comigo: o cara tava num cargo que, por definição, é uma aposta de liderança jovem para o futuro. Além disso, ele estava alocado em uma das áreas operacionais que englobava um setor de auditoria.

Como que alguém que está sendo preparado para ser gestor para uma área que exige eficiência e lisura profissional pode ter uma atitude assim?

(...)

Pouco tempo se passou e, de trainee, o rapaz virou coordenador. Agora, ele tinha equipe e precisava dar o exemplo.

Não sei se foi antes ou depois dessa transição que ele começou a namorar uma moça da própria empresa. Pareciam super apaixonados.

Depois fiquei sabendo que ela saiu da empresa. Pediu demissão. A pedido dele.

A justificativa que ele deu para convencê-la a sair foi: "você é muito linda, aqui tem muito homem safado e eu não quero nenhum marmanjo dando em cima de você. Se precisa de dinheiro, eu te dou. Estamos juntos, afinal".

Ela saiu.

E eles se separaram.

Ela ficou sem o namorado e o emprego.

Ele ficou sem o sorvete e nunca mais conseguiu sustentar um olhar na minha frente.

(...)

Um covarde sempre será um covarde.

Ribeirão Preto, 9 de março de 2020.


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